Sensação de leveza  e de conforto

tomam conta de mim, dizendo-me

que estou renascendo.

Há luz e energia

em todo o meu ser.

Tais fontes, alimento-as

com um sorriso,

um abraço, um olhar...

Tudo são flores, campos

e perfume campestre.

A chuva parece levar

consigo

todas as maldades do mundo

e trazer-me amor e fraternidade.

A música e o canto dos pássaros

transportam-me

para o mundo da fantasia,

da esperança e da realidade.

Amanhecer, recomeço,

esperança, vida...

Ora adormecidos,

ora aos turbilhões.

Uns afloram

com mais freqüência

e não me inspiram medos;

outros parecem

fugir de mim

e se afastam

como se estivessem

evitando-me; todavia,

no silêncio da noite,

todos chegam,

deixando-me desperta

e bastante temerosa.

A solidão, às vezes,

assusta-me;

em outras, desejo-a;

mas o que, realmente,

preocupa-me, é a morte.

O coração acelera,

as mãos ficam úmidas e,

os pensamentos,

apreensivos e fantasiosos.

Relaxo e busco,

na alma, o desejo

que essa custe a chegar, 

pois quero usufruir,

mais um pouco, da vida.

Às vezes, tenho  medo

de minhas emoções,

pois aflora em meu peito

uma força quase incontrolável:

entusiasmo imenso,

ardente e infinito...

Nesses momentos, meu olhar

fica mais aguçado,

assim como as outras

impressões sensoriais.

Diante de uma turma concentrada

na atividade de leitura,

a certeza de que meu papel

de mediadora educacional

é longo, árduo e grandioso.

Vejo rostos serenos;

testas antes enrugadas,

límpidas e tranqüilas.

Tudo  parece se encaixar

e os alunos buscam descobrir

significados e informações

na mais sublime invenção

dos homens, a palavra.

Tamanha é a harmonia

entre leitores e textos

que pareço levitar.

Sonho com o letramento,

não quero ser  reprodutora

de analfabetos funcionais.

O número de obstáculos

a serem vencidos, não importa;

importa, sim, regar a sementinha

plantada, hoje, 25/04/03,

às 16 horas, no Colégio

Júlio de Castilhos,

da habilidade de compreender

e decifrar ideias.

Aspirei ardentemente ver felicidade

em todos os rostos infantis;

no entanto, observo mágoas e rancores,

sentimentos que me provocam tristeza,

fragilidade e perdas.

Este contexto está impedindo

que eu traga

o mesmo espírito de luta e garra;

assim como tenha credibilidade nos outros.

Sinto-me ferida e decepcionada

ao ver, no rosto de crianças,

a dor da separação e o estresse

gerado pela ausência de um dos pais.

Para estes pequeninos

faltam respostas e explicações claras

a muitas perguntas

que passam em seus pensamentos.

Há dor, muita dor

e as explicações, que os adultos dão,

não são suficientes

para amenizar o sofrimento

existente nos seus coraçõezinhos.

Os momentos,

que antes eram alegrias e felicidades,

passaram a ser esperas e saudades.

Quisera eu,

abraçá-los e beijá-los,

e, assim, apagar todos os seus males.

Ah! Diante de inúmeros rostos,

senti-me assustada e indefesa.

Como  gostaria de poder ler

seus pensamentos,

assim como saber o que esperam de mim

e poder ajudá-los.

Depois que o pânico passou,

vi, em alguns, cacos de desejos

e sonhos quebrados

pela desastrosa e caótica sociedade,

que os impede de viver dignamente.

De leve, como uma brisa,

sorrisos singelos

apareceram em certos rostos

e vi flores de ilusões,

alimento que fortalece seus caminhares.

Entre cacos e flores

havia desesperanças e esperanças;

por que, então, acreditar

que entre o céu e o abismo,

a distância é infinita,

se para o coração,

o amor não esconde segredos

e nem vê empecilhos?

Em nossa alma só haverá silêncio,

se assim o desejarmos.