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A NOSSA MÚSICA
Era uma tarde comum de outono e, como de costume, fui até a cafeteria que ficava a uma quadra da minha casa. Sentei-me em frente ao balcão de atendimento e chamei Sophie, uma garçonete muito simpática que sempre me atendia com um sorriso no rosto. Pedi o de sempre: um cappuccino e uma omelete. Enquanto aguardava, fiquei lendo as notícias em um bom e velho jornal. De repente, uma melodia, que há muito tempo não escutava, encontrou os meus ouvidos e fez florescer um sentimento que estava escondido. A canção foi como um portal de volta para meados dos anos 50. Eu estava prestes a sair do colégio e completar 19 anos. Preparava-me para o meu primeiro encontro, com uma linda jovem chamada Lucy. O nervosismo e a paixão me faziam sorrir à toa, enquanto encarava meu guarda-roupa, me perguntando: com que roupa eu vou? Depois de provar múltiplas opções, escolhi uma camisa branca de manga comprida e, por cima, um blazer de lã azul marinho. Na parte de baixo, uma calça cáqui de corte reto e um sapato de camurça azul piscina. Já estava atrasado, então passei rapidamente o perfume marcante que comprara recentemente, e finalizei o topete com um pouco de pomada. Eu que buscaria Lucy para levá-la ao drive-in, que naquela noite exibiria “Rebeldes sem causa”. Estacionei meu Bel Air preta, ano 1955, em frente a sua casa. Assim que parei o carro, avistei a menina descendo as escadas rapidamente e entrando no meu automóvel. Ela me deu “oi”, no entanto, não respondi; parecia um bobo, mas era impossível não se hipnotizar com tamanha beleza. Logo que notei que não a cumprimentara, dei-lhe um beijo em sua mão. Assim que o fiz, senti as notas adocicadas de seu perfume de baunilha e bergamota invadirem minhas narinas e tocarem meu coração. Quando soltei sua mão, dei partida no carro e fomos ao drive-in. Era tarde da noite quando voltamos. Lucy amara o filme; já eu, se me perguntassem um resumo, não saberia dizer: estava ocupado demais admirando a beleza de Lucy. Depois de nos despedirmos, nos encaramos por mais alguns segundos e aproveitei para admirar mais uma vez seu vestido amarelo florido, que fazia par perfeito com seu cinto fino laranja. Sem falar em seu cabelo castanho, preso em um coque baixo, perfeitamente finalizado com laquê, contrastando com seu batom vermelho, o qual contornava lindamente seus lábios. Não resisti: beijei-a. Era como se uma explosão de sentimentos percorresse meu sangue e atingisse meu coração. O que deixou o momento ainda mais memorável e especial foi que, naquele minuto, começou a tocar a música “Love Me Tender”, do Elvis Presley. Foi perfeito. De repente, uma mão tocou leve meu ombro, teletransportando-me novamente à realidade. Era Sophie, que estava com meu pedido em mãos, perguntando se estava tudo bem. Assenti. Enquanto comigo, me lembrava em como minha vida com Lucy fora boa e feliz, até seus últimos suspiros, dançando e fazendo as mais loucas aventuras. Mas nem a morte, nem o tempo mudariam o fato de que aquela sempre seria a nossa música. Giulia Gonçalves Kollet – 15 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 25/05/2025
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