MEMÓRIAS PELA JANELA DO TEMPO

Hoje, lembro-me de teu rosto enrugado,

Emoldurado em um quadro de vidro

Embaçado ao lado da janela do tempo.

Lembro-me de tuas calmas palavras

Ditas entre cartas de um baralho cigano

De uma tarde sem fim…

O teu redor era pintado

Com vivas cores de alegria!

O teu cantinho de chão amadeirado

Acrescentado do perfume de velhas casas…

O cusco, encantado,

Com toda magia do teu lugar.

Tu sempre estiveste ao meu lado, Dona Ione…

Nasci e cresci no teu mundo mágico.

Entre letras de uma sopa saborosa

Ou viajando no açúcar dos teus doces,

Escutava tuas palavras de saber infinito.

Via e observava com atenção o teu jogo

Das cartas jogadas, uma a uma,

Sobre a mesa em frente à janela do tempo.

E cada um de teus movimentos acalmavam

Males de um tempo inesquecível.

Mas, o tempo…

O tempo não para!

Nem perdoa cada momento

perdido de estar ao teu lado.

Ele vem sorrateiro,

Muitas vezes acompanhado

De ondas de um mar aberto,

Trazendo o incerto para as areias da praia.

Mas tu sempre tinhas um jeito

De acalmar as tempestades

E levar todos os males

Para o fundo do mesmo mar.

E na lembrança surge teu doce cantar…

“Descarrega... descarrega

Todos males que aqui estão,

Leva, leva, leva, leva tudo para o fundo do mar”.

Mas às vezes o tempo sopra tão ligeiro

Sem dar tempo ao menos para pensar

Nas respostas, para acalmar

Aquele mar de metáforas,

Cheio de surpresas imprevisíveis

Sobre um momento que ali começava.

Naquele dia, o tempo te chamou pela tua janela

Que estava aberta para receber o sol

Que abrilhantou muito os teus dias.

Ele levou-te para ter a tua companhia

Nos seus dias mais tristes,

Para te deixar na lembrança de uma foto

Desgastada pelo tempo.

Hoje, Dona Ione,

Posso rever o teu rosto enrugado

Apenas por retratos

Que o tempo nos deixou.

Aquela foto, que vivia sobre tua cristaleira

Ganhou nova casa para

Lembrar-me, de ti ao nosso lado

Com teu sorriso acolhedor

E ignorar que o tempo passou!