A JORNADA DOS REFUGIADOS
Em meio às ruas empoeiradas de Damasco, vivia a família de Ahmad e Fátima, emaranhada por desafios e esperanças entrelaçadas. Ahmad, com suas mãos calejadas pelo trabalho árduo como carpinteiro, e Fátima, com seus olhos gentis e mãos habilidosas na cozinha, lutavam diariamente para manter sua pequena família unida e segura na tumultuada capital da Síria. Ali, o primogênito de catorze anos, era uma alma sensível, cujos sonhos se perdiam no horizonte poluído por fumaças industriais. Aisha, a caçula de apenas oito anos, ainda conseguia ver o mundo através de uma lente mais inocente e otimista, e irradiava alegria e curiosidade, apesar das sombras que insistiam em se acumular sobre sua infância. Os irmãos estavam sempre juntos, cuidando um do outro. Todavia, em março de 2011, uma guerra civil irrompeu pelas ruas de Damasco, transformando o que era um lar em um campo de batalha. Para Ahmad e Fátima, a segurança de seus filhos era a prioridade, e a Inglaterra parecia ser a promessa da terra de oportunidades, onde Ali e Aisha poderiam sonhar sem medo de serem acordados pelo estrondo de bombas. No entanto, a decisão não viria sem custos. Deixar para trás os campos onde cresceram, os laços familiares e os amigos de uma vida inteira, seria tão difícil quanto arrancar uma árvore desesperadamente agarrada ao solo, não querendo sair. As despedidas foram dolorosas e os abraços apertados foram longos, como se quisessem estagnar o tempo, impedindo-o de seguir em frente. Com o coração pesado e a coragem fragilizada como o casco do navio que os levaria à Europa, que parecia estar prestes a naufragar, essa família, assim como outras, embarcaram em uma jornada perigosa e incerta em busca de uma vida melhor, onde as ondas que arrebentava violentamente, separando-os cada vez mais de sua terra natal, carregava consigo o peso do passado que teimava em não se despedir. Depois de praticamente duas semanas navegando, em alto mar, a precária embarcação que levava centenas de famílias sírias, enfrentou seu período mais assustador. Sob o breu da noite e o mar revolto, uma tempestade emergiu espontaneamente do céu como um leão faminto, devorando a esperança e desafiando a bravura daqueles que se atreviam cruzar seu caminho. Ahmad e Fátima, pálidos e trêmulos, seguraram-se em seus filhos com força, agarrados aos mastros, enquanto o comandante, um homem de cabelos grisalhos e olhos endurecidos pela experiência, lutava contra o leme com uma determinação feroz. Com seu rosto suado, músculos tensos e cada manobra, meticulosamente calculada, ele dançava com a morte, impedindo o navio de virar. Contudo, os passageiros e tripulação conseguiram sair da zona de risco, deixando para trás a tempestade que os ameaçava. Banhados em alívio e gratidão, as famílias respiraram fundo; embora com seus corações ainda acelerados pela proximidade da morte que ficaram. Todavia, não podiam declarar vitória ainda, pois diante deles encontravam-se muitos mais desafios em solo estrangeiro. Desembarcando em território inglês, Ahmad e Fátima enfrentaram uma batalha diferente, uma batalha para sobreviver e manter sua dignidade viva em um local que não os via bem. A busca por um visto permanente foi uma tarefa tortuosa para eles, marcada por obstáculos burocráticos e julgamentos cruéis. Apesar de tudo, eles não desistiram. Com muito esforço e uma força de vontade inabalável, eles conseguiram construir uma nova vida mais modesta em Liverpool, onde Ali e Aisha foram matriculados em um colégio de prestígio. No entanto, suas lutas não acabaram ali. Ali e Aisha tiveram que carregar com si o peso do preconceito e xenofobia, uma carga que pesava muito em seus ombros jovens e inocentes. Os olhares de desconfiança e as palavras maldosas dos colegas de classe penetravam como facas afiadas neles, deixando cicatrizes invisíveis, mas doloridas, em suas almas sensíveis. Contudo, com o amor e apoio incondicional de seus pais, Ali e Aisha aprenderam a erguer suas cabeças, orgulhar-se de suas origens, a ignorar as vozes de ignorância e a encontrar a verdadeira amizade naqueles que viam além das aparências. E assim, lentamente, eles começaram a florescer, transformando a dor em força e a adversidade em resiliência. Certa manhã, o sol brilhava intensamente sobre Liverpool, pintando o céu de tons dourados enquanto a cidade despertava para mais um dia. Nas ruas movimentadas, a vida seguia seu curso, e no coração da cidade, a família de Ahmad e Fátima encontrava-se já enraizada, como um jardim que floresceu lindamente após uma tempestade. Ali, um jovem adulto, de dezenove anos, caminhava com determinação pelos corredores da universidade, seu olhar fixo no horizonte vasto de possibilidades que se estendia diante dele. Com sua mente ávida por conhecimento e seu coração pulsando de paixão pela verdade, ele abraçava seu curso de jornalismo com fervor, consistente do poder das palavras para mudar o mundo. Seu sorriso luminoso, refletia a esperança e determinação de um menino que foi forçado a se retirar de seu próprio país, deixando tudo que conhecia para trás. Tais fatores ainda o impulsionam para seguir em frente. Ali sabe que ainda tem um longo caminho para trilhar, mas está preparado para encarar os desafios que o aguarda, mantendo-se fiel aos seus ideais e raízes e sempre buscando incansavelmente trazer à tona a verdade. Enquanto isso, Aisha, agora uma jovem de quinze anos, explora as alegrias e emoções da adolescência com um entusiasmo contagiante. Seus cabelos escuros dançam ao vento enquanto ela caminha de mãos dadas com seu namorado, rindo e compartilhando segredos que só eles entendem. No primeiro ano do ensino médio, ela ficou fascinada com o mundo de possibilidades que se desdobrava diante dela, sem deixar o preconceito dos outros obscurecer sua luz interior. Aisha é agora um raio de sol em meio à escuridão, irradiando alegria e bondade onde quer que esteja. Já, Ahmad e Fátima, encontraram conforto e alegria na vida tranquila que construíram para si em Liverpool. Com seus novos amigos sírios ao lado, eles compartilhavam histórias e risadas, encontrando força na comunidade que os acolheu de braços abertos. Suas almas estavam em paz, pois sabiam que seus filhos estavam realizados e felizes, seguindo seus próprios caminhos com coragem e confiança. Eles olhavam para o futuro com uma esperança renovada, sabendo que, juntos, poderiam superar qualquer obstáculo que a vida lhes trouxesse. Assim, enquanto o sol se punha sobre Liverpool, a família aguerrida de Ahmad e Fátima, erguia-se como um símbolo de resiliência e superação, provando que, mesmo nas circunstâncias mais complicadas e escuras, o amor pela família e coragem podem mudar transformar o destino e abrir portas para um futuro brilhante e cheio de oportunidades. Tiago Dariano Slompo – 17 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 01/03/2024
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