Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos


 

O TERRÍVEL SEGREDO

 

O dia estava chuvoso. Sozinho, não conseguia enxergar nada devido ao tempo. Ninguém sabia ao certo do que se tratava, ou quem estava no labirinto escuro e sombrio.

De longe, avistei uma figura misteriosa que me transpassou as sensações de medo e de vazio. Em minutos, gelei cheio de pavor como se alguém tivesse entrado em minha alma e enxergasse o meu pior medo, aquele que me aterroriza desde a infância, deixando minha memória trancada e esquecida.

Há décadas, ouvi falar de um labirinto frio, com monstros horríveis e impiedosos com suas vítimas. Diziam que o local abrigava um segredo terrível, capaz de mudar muitas histórias e fatos, se descobrissem as verdades existentes por trás da figura sombria.

Semanas se passaram, desde o dia em que eu fora deixado nesse buraco frio. Meu coração fora quebrado no dia do falecimento de sua dona, pessoa que sempre cultivou o amor.

Estou aqui, sozinho, de pé, sem a menor vontade de dar um novo rumo a minha vida. Pergunto-me o que teria acontecido se eu estivesse escolhido sua irmã e não você, ou tiver deixado de lado esse sentimento há tempo, para ter uma vida cheia de aventura, sem me preocupar com o futuro, ou com o sogro dando sermões?

Talvez, dizer adeus seja a solução ideal para sermos felizes com o que temos, ou não voltarmos a nos ver! Para isso, eu teria de queimar tudo que restou de nós.

Depois de muitos anos, um forasteiro chega à vila. Embora a maioria já o conhecesse, estavam curiosos sobre a sua origem. Dr. Jim Feder viera à vila para focar-se em sua carreira de médico e apagar a tristeza do falecimento da esposa.

Seu objetivo era explorar o labirinto abandonado. Muitos tinham lhe avisado do risco de perder a vida nessa aventura. O doutor demonstrou não se importar com esse tipo de situação. Em sua mente, o desejo de descobrir o mistério do labirinto assombrado.

Desde o início, a meta foi buscar a verdade existente por trás daquela figura que vira quando jovem, um ser de rosto pálido. Nunca mais vira uma criatura como aquela! Depois de desaparecer entre as árvores, decidiu retomara a busca pela figura misteriosa nem que fosse preciso enfrentar o medo do desconhecido.

Como companhia, o seu pequeno assistente, parceiro para o que desse e viesse. O garoto, ainda que inteligente o bastante para lidar com os animais e cuidar de si mesmo, interessou-se pelo labirinto e decidiu embarcar nessa perigosa aventura.

Chegando ao labirinto, ouviram uma voz lhes chamando para entrar.

O doutor e o assistente acharam que estavam loucos. Não podia ser verdade, embora a voz fosse tentadora.

– De quem seria aquela voz? E por qual motivo estava os chamando?

Tudo era muito estranho para ser alucinação. Investigaram o lugar, a fim de descobrir a causa do que tinham escutado.

O labirinto, além de ser frio e escuro, parecia não levar a lugar nenhum. Exaustos da caminhada, pararam por alguns instantes.

O menino, cansado, caiu morto como uma ameixa seca. Doutor Alex mal conseguia piscar. Por não encontrar nada, uma única pista, ficou muito sério e zangado. Para acalmar os nervos, pegou o cachimbo e caminhou para um canto do labirinto, deixando o menino dorminhoco para trás.

Alex, já não entendia mais nada, não tinha nenhuma lógica nesse mistério. O medo, bastante óbvio, impediu de perceber o olhar ameaçador em sua direção. As mãos tremiam de remorso ao lembrar-se de seu pior temor, o mesmo que o deixou após a morte de sua esposa.

O doutor gritou várias vezes, chamando à criatura para encará-lo, a frente a frente, se não fosse covarde. Por cerca de uma hora, tudo ficara em silêncio, até que ele ouviu um rugido atrás das rochas.

Sem hesitação, correu para o suposto local, parando em um caminho sem saída. Não sabia o que fazer. Ouviu passos atrás de si, virou-se; no entanto, não viu ninguém. Quando se voltou, foi atacado pela frente.

A criatura estava em cima dele, bloqueando-lhe os movimentos de defesa; não o deixando a chance de correr. À sua frente, um rosto pálido, sem alguma expressão, com uma faca, tendo gema no topo.

Por vezes, tentou esfaquear Alex, mas de nada adiantou, o homem revidava cada ataque mesmo com as mãos atadas. Em um momento, seu ombro foi atingido. Embora perdendo muito sangue, o doutor foi para cima da criatura, batendo-lhe, várias vezes; ataque que ela reivindicou.

Cansados e por causa de seus ferimentos, mal conseguiam levantar-se. Com o tempo, os dois passaram a dar-se bem. A criatura ensinou ao doutor seus costumes e, ele, por sua vez, transmitiu-lhe seus aprendizados de medicina.

Certo dia, ao aproximar-se da amiga – criatura -, tudo ficou escuro. Sem entender a situação, tentou achar uma vela; todavia, o inesperado aconteceu.

Em sua cabeça passavam imagens confusas. Quando conseguiu assimilá-las, compreendeu que, o que tinha visto, eram imagens e memórias passadas da criatura.

Há milhares de anos, o labirinto era um refugiado de criaturas inofensivas que ajudavam a raça humana com seus problemas. O clima foi pacifico, até o dia, em que tudo se transformou num caos.

A paz, que reinava no lugar, tornou-se uma terrível guerra, repleta de traições e de ganância dos homens. A raça humana caçou, um por um, até não restar nenhuma criatura.

O último das espécies que, sobreviveu ao massacre, foi a criatura mais nova, que se deixou ser corrompida por profundo ódio por humanos.

Sem piedade, cresceu amargurada, eliminando cada um que se atrevia invadir o labirinto.

O Doutor ficara chocado, ao saber que a verdade viera à tona. Teve vontade de fugir para o mais longe possível; porém, percebeu que, o único motivo para a criatura ter feito aquilo, fora para proteger seu lar e a família que tanto amava.

Quando Alex estava indo embora, foi emboscado junto à criatura, na jaula, pelos caçadores que esperavam por anos conseguirem entrar no labirinto.

Sabendo que tinha poucas chances do plano de fuga falhar, foi atrás de um dos caçadores e, finalmente, uma esperança. Dois tinham adormecido e, o terceiro estava distraído com o almoço.

Com o canivete de um dos caçadores, que conseguiu pegar, soltara-se. Após, libertou o amigo e, juntos, deram fim aos caçadores.

Na despedida, os dois se abraçaram com carinho e gratidão. O doutor partiu, logo, com o seu assistente. O garoto, que nada sabia do ocorrido, ficou com várias interrogações na cabeça. Por diversas vezes, tentou persuadir Alex para lhe contar sua história, mas não adiantou.

O doutor cumpriu a promessa de manter o segredo guardado para acabar com a sofrência do amigo e, assim, sua alma libertar-se do ódio deixado pela maldade. Um dia – afirmou ele – estarei de volta meu amigo!

O segredo não deveria ser revelado. Para tal, a humanidade precisaria deixar seus pecados e aceitar, com o coração puro e verdadeiro, as verdades.

Um dia tudo será descoberto? Não se sabe quando esse dia chegará! Até lá o labirinto aguardará o retorno da paz e que os corações impuros consigam passar desse lugar, ou sumam que nem pó. Só uma criatura decidirá!

Maria Fernanda da Silva Silva - 15 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 18/11/2021


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras