Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos


 

ATOS SEVAGENS

 

Bom, Greg, vou te contar uma história. Olha só a viagem que foi isso.

Havia dois sujeitos em uma rivalidade estereotipada de valentões. Peitos estufados como se suas nucas fossem muito pesadas, postura corporal de pavões e uma romantização tão cega acerca de suas posturas que um pensamento aleatório se encaixava em algum padrão meritocrático: “Penso, logo é meu mérito essa ideia genial”. Os dois sempre se encaravam e se pechavam lá perto do meu trabalho. Assumo minha parcela de hipocrisia. Achava sim, muito idiota tudo aquilo, mas sempre fazia meu intervalo na rua mais ou menos no horário em que eles estavam. O velho pão e circo, né. Enfim, cruzava meus brações e esperava. Dirigiam seus veículos, mas freavam, desciam e começavam a se empurrar ou a se xingar. Mal sabiam conjugar verbos decentemente quando alterados. Era impressionante como homens e mulheres ficavam hipnotizados com tudo aquilo. Uns separavam, mas muitos riam. Cara, eu ficava ali, parado. Não queria me sujar, né. Tinha que trabalhar dentro de trinta minutos. Certo dia, um deles veio em minha direção e perguntou, um pouco atordoado, onde havia deixava sua motocicleta, pois perdera a noção de tempo e espaço em uma das diárias discussões. Então. eu falei:

– Você está bem? Vou chamar alguém para lhe ajudar. A propósito, sua moto está lá. (Indiquei com o dedo para perto de uma árvore do outro lado da rua). Ele me olhou e apenas falou: “Obrigado, obrigado mesmo.”

Fiquei esperando e pensei muito em questionar ele acerca de alguma possível razão para sempre discutir com o mesmo indivíduo todos os dias. Não tive resposta, mas sim apenas um olhar distante e quase como se transparece vergonha. O outro não vi. Perdi de vista em meio à última confusão que eles causaram.

– E que vim essa história deu? – Quis saber Greg.

– AH, os pais deles decidiram sentar e conversar.

– O que? Como assim?

– Os pais das crianças decidiram conversar e ver se paravam com os conflitos dos filhos.

– Você não me disse que eram crianças.

– E faz diferença? Não creio que o ser humano cresça, apenas que fica calvo e com a coluna estourada.

Anderson Arli Pedroso Fagundes - 23 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 03/11/2021
Alterado em 03/11/2021


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