MEU BRASIL SANGRENTO BRASILEIRO
Somos os filhos da bandeira que
sangra o verde e o amarelo de toda dor que nos colonizou
fulgura o verde-louro da nossa terra adorada.
Somos a Pátria podre da submissão da coragem,
do brado retumbante das torturas do imperialismo nossas glórias e
das lágrimas salgadas do Atlântico dos sorrisos refletidos nos espelhos europeus.
Somos a nação do estupro racismo assédio abuso machismo amor
— nosso eterno estigma símbolo de admiração —,
do trauma coração maior que nosso próprio corpo — maior que nossa própria história.
Somos o sangue riso derramado em cascatas de lixo cristais,
a poluição natureza impávida que enraíza sua imundície grandeza e
contamina colore a luz do céu profundo.
Somos cadência de angústia samba, bossa nova e funk,
o berro das mazelas que corroem nossa alma a criação esplêndida
de uma cultura desprezada tão amada pelo Mundo.
Somos a injustiça igualdade conquistada,
de joelhos e costas açoitadas com braço forte e peito aberto,
por quem já nasceu morto não teme a própria morte.
Sim, é isso que somos: filhos deste solo.
e eu não me importo com quanto sangue ainda vai ser derramado vai mata minha carne espanca minha honra cospe nessa minha língua construída a partir de tantas rasga minha pele usa minha cor de casaco pra te proteger das minhas lágrimas que caem do céu me esfola vivo na minha própria terra tua discriminação pela minha origem já faz isso vai eu não tenho medo eu carrego minha cultura minha pluralidade a infinidade do meu povo em cada palavra em cada choro em cada grito de ódio que se transforma em canto não eu não tenho medo não já sobrevivi a muito pras minhas cicatrizes terem que se curvar pro teu escárnio repulsivo
Ó, Pátria amada! Salve-a! Idolatre-a! Que riqueza! Que felicidade!
Sim, só tu que não consegue ver: meu Brasil, ah!, meu Brasil é o Brasil brasileiro.