JÃO, O BICHO-PAPÃO! Jão, o bicho-papão, vive naquele campo de flores. Ele não mora nos lixões e poças de lama, nem debaixo das camas ou dentro dos armários, como a maioria dos pais conta. Jão mora no campo de flores, porque ele adora o perfume de cada uma delas. Numa linda tarde de primavera, uma menina vai colher flores no campo. Jão mantém distância: ele morre de medo dessas pequenas criaturinhas. Seu amigo disse que as crianças têm uma arma secreta: seu grito. “Se esse som chega aos ouvidos de algum bicho-papão, meu amigo, não escutamos mais nada.” Então, Jão não se aproxima. Ele não entende porque as crianças têm tanto medo, já que todos os bichos-papões têm o poder de realizar os desejos de todos aqueles que forem gentis com eles. Todas as crianças correm, se afastam, gritam pelos pais e choram muito alto. Mas aquela menina é diferente: quando tira a primeira flor da terra, ela vê Jão, escondido atrás das inúmeras pétalas. — Mas o que você está fazendo aí? — pergunta ela. Jão corre para um arbusto cheio de folhas verdes, tremendo todo de medo. — Não precisa ter medo! — exclama a menina, correndo atrás de Jão. — Não quero fazer mal! O bicho-papão, ainda com o coração batendo com pavor, ergue os olhos para ver a menina. — Como você se chama? — ela pergunta. Ela está sorrindo, os dois dentes da frente faltando e um dos dentes debaixo balança quando ela fala, prestes a cair. — Jão — responde ele. — Mas você deve me conhecer como bicho-papão... A menina se espanta, mas não se afasta. — Achei que você fosse mais assustador... — diz ela. — E eu não sou? — pergunta Jão. Balançando a cabeça, a menina responde: — Como você pode ser assustador se tem o cheiro da mais linda flor? — Você acha? — pergunta o bicho-papão sentindo as bochechas ficando vermelhas. — Claro! — Já que você foi tão gentil, você tem direito a um pedido — diz Jão com um sorriso no rosto. — Um pedido? — A menina pensa em todos os brinquedos que pode pedir, em todas as aventuras que pode explorar e em todas as tortas que poderia comer. Mas decide perguntar para o bicho-papão: — O que você pediria se tivesse um pedido? Jão se espanta com a pergunta. — Acho que pediria para ser uma flor. Sempre quis ser uma flor. Elas são tão lindas! E ninguém tem medo delas... — Então eu quero que você se transforme em uma flor! O bicho-papão se assusta com a decisão da menina e não entende por que ela gasta seu pedido com ele, mas, agradecendo e sorrindo de orelha a orelha, Jão se transforma na mais linda flor daquele campo. Desde aquela tarde, Jão virou o que sempre quis ser: uma flor. E a menina, feliz com seu pedido, prometeu ir todos os dias regar e cuidar de Jão, para que ele nunca perdesse suas pétalas e para que as pessoas nunca mais tivessem medo dele. Assim, todo mundo que passa pelo campo, sente o perfume único de Jão, a flor mais bonita que um dia já foi bicho-papão. Marina Solé Pagot – 18 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 15/09/2021
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