Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



JÃO, O BICHO-PAPÃO!
 
Jão, o bicho-papão, vive naquele campo de flores. Ele não mora nos lixões e poças de lama, nem debaixo das camas ou dentro dos armários, como a maioria dos pais conta. Jão mora no campo de flores, porque ele adora o perfume de cada uma delas.   
Numa linda tarde de primavera, uma menina vai colher flores no campo. Jão mantém distância: ele morre de medo dessas pequenas criaturinhas. Seu amigo disse que as crianças têm uma arma secreta: seu grito. “Se esse som chega aos ouvidos de algum bicho-papão, meu amigo, não escutamos mais nada.” Então, Jão não se aproxima.
Ele não entende porque as crianças têm tanto medo, já que todos os bichos-papões têm o poder de realizar os desejos de todos aqueles que forem gentis com eles. Todas as crianças correm, se afastam, gritam pelos pais e choram muito alto. Mas aquela menina é diferente: quando tira a primeira flor da terra, ela vê Jão, escondido atrás das inúmeras pétalas.
— Mas o que você está fazendo aí? — pergunta ela.
Jão corre para um arbusto cheio de folhas verdes, tremendo todo de medo.
— Não precisa ter medo! — exclama a menina, correndo atrás de Jão. — Não quero fazer mal!
O bicho-papão, ainda com o coração batendo com pavor, ergue os olhos para ver a menina.
— Como você se chama? — ela pergunta. Ela está sorrindo, os dois dentes da frente faltando e um dos dentes debaixo balança quando ela fala, prestes a cair.
— Jão — responde ele. — Mas você deve me conhecer como bicho-papão...
A menina se espanta, mas não se afasta.
— Achei que você fosse mais assustador... — diz ela.
— E eu não sou? — pergunta Jão.
Balançando a cabeça, a menina responde:
— Como você pode ser assustador se tem o cheiro da mais linda flor?
— Você acha? — pergunta o bicho-papão sentindo as bochechas ficando vermelhas.
— Claro!
— Já que você foi tão gentil, você tem direito a um pedido — diz Jão com um sorriso no rosto.
— Um pedido? — A menina pensa em todos os brinquedos que pode pedir, em todas as aventuras que pode explorar e em todas as tortas que poderia comer. Mas decide perguntar para o bicho-papão: — O que você pediria se tivesse um pedido?
Jão se espanta com a pergunta.
— Acho que pediria para ser uma flor. Sempre quis ser uma flor. Elas são tão lindas! E ninguém tem medo delas...
— Então eu quero que você se transforme em uma flor!
O bicho-papão se assusta com a decisão da menina e não entende por que ela gasta seu pedido com ele, mas, agradecendo e sorrindo de orelha a orelha, Jão se transforma na mais linda flor daquele campo. Desde aquela tarde, Jão virou o que sempre quis ser: uma flor. E a menina, feliz com seu pedido, prometeu ir todos os dias regar e cuidar de Jão, para que ele nunca perdesse suas pétalas e para que as pessoas nunca mais tivessem medo dele. Assim, todo mundo que passa pelo campo, sente o perfume único de Jão, a flor mais bonita que um dia já foi bicho-papão.
Marina Solé Pagot – 18 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 15/09/2021
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