Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



PRINCESA AAREA

O jardim do reino parecia-me cinza, não importava quantas vezes ao dia os funcionários do castelo fossem cuidar dele, cortando, alinhando, plantando flores e árvores cada vez mais raras com cores cada vez mais vivas.
Não importava o quão trançado estivesse o meu cabelo, o quão perfeitamente justas, minhas vestes beges estavam, quantas joias decorassem os meus finos dedos, o quão deslumbrante eu me encontrava em um simples dia de semana sem eventos extravagantes. Sentia como se estivesse nua de roupas, de cabelos, de saúde, de alma.
Faz duas estações que prenderam em espessas grades o único homem que de fato me ensinou a arte do amor. Consideraram-no nada senão perigoso, humilharam-no, torturaram-no e o tiraram de mim, crente de que o puniriam por seus pecados. Mas, quem na Terra seria capaz de julgar outro alguém por pecados? Como poderiam eles pensar que não têm seu trono de espinhos reservado no inferno? Existem tantas indagações que me assolam e ardem o peito e eu nunca, nunca em resto de vida, terei as respondidas.
Como poderei eu olhar para as vidraças com o olhar longe e não sorrir, lembrando-me do tempo curto em que vivemos juntos? Mas, que eu não me engane, pois cada sorrir virá acompanhado de um chorar, choro esse que levará minha memória aos dias em que relutei incansavelmente para não o amar, para não o beijar em segredo, para não sentir todos os pelos de meu corpo enrijecerem-se em cada um de seus toques lentos, como se eu fosse capaz de me partir em milhares a qualquer segundo.
Que Vossa Majestade não se engane ao cogitar a ideia de que me teve salvado dele, de que finalmente serei feliz. Cada vez que o perfuraram, perfuraram-me também. Cada vez que o estapearam, estapearam-me também. Cada vez que ignoraram seus gritos de agonia e dor, saibam que ignoraram os meus também. Tudo o que fizeram a ele, fizeram a mim, com a dissemelhança de que o conglomerado encontra-se dentro do meu ser e não há caminho outro para que o sofrimento passe de última vez.
Faz duas estações que os sentidos para continuar andando por meus caminhos se contorceram em um nó inflexível.
 
 
Giovanna Guerra - 17 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 23/06/2021
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