A TEMPESTADE Júlia retornava do trabalho quando foi surpreendida com um temporal na Cristóvão Colombo. A tempestade trouxe medo e horror a muitos. Alagou ruas, provocando o caos. Um morador de rua que dormia na calçada, em frente ao Cartório da Benjamim Constant, no entanto, permaneceu indiferente à catástrofe. Deitado estava, deitado continuou. Seu sono era tão profundo que, mesmo os ruídos do vento e da chuva, não o despertaram. A fúria das águas impediam pedestres de circularem pelas ruas. Sinaleiras desligadas e carros apagados, nas pistas, aumentavam a confusão. Júlia, ansiosa para chegar a sua casa, observava bueiros transbordarem, destruindo calçadas e asfaltos e, só o mendigo permanecia indiferente à tragédia, deitado na calçada. Por alguns segundos, suspeitou que estivesse morto. A tempestade não o despertava. Ao ver uma árvore e um poste de luz tombarem próximo ao homem, desesperada atravessou a rua, expondo-se ao perigo. Embora estivesse encharcada, o vento lhe tinha arrancado, das mãos, a sombrinha, aproximou-se: – Moço! Moço! Precisas ir para um abrigo. A tempestade está destruindo tudo! – Moça, calma! Por viver ao relento, estou acostumado com os temporais. Enfrentei muitos verãos, outonos, invernos e primaveras nas ruas. Muito obrigado! Estou bem! Em suas palavras havia serenidade. Júlia, a passos lentos, foi se afastando. Em pensamentos, uma pergunta: – O que é a vida? Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 21/06/2021
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