Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



A MISTICIDADE LUNAR
 
Anos se passaram desde que perdi meu amado em meus braços. Passei a viver como a deusa mística da lua, garantindo a harmonia dos amantes sob a luz do luar e sendo a protetora das plantas; aniquilando aqueles que se atrevessem a se opor diante da minha divindade e castigando, severamente, a quem invadisse meu santuário lunar.
No princípio, só enxergava apenas a escuridão do vazio, mas, quando abri meus olhos, estava repleta do brilho do luar. Diante de mim estava a lua me observando e me chamando. Saí do lago, brilhante, à procura da voz familiar que me chamava do meio da floresta.
Correndo, sem me importar com os galhos atravessando-se à frente de meu rosto, fui ao fim da floresta escura, só com o meu brilho servindo como única forma de enxergar o escuro. Cansada de correr, parei por um instante, quando senti uma presença ao meu lado.
Virei-me e, surpresa, gritei:
– Não sei quem me chama e o porquê de terem me posto aqui. Ordeno que apareça imediatamente!
– Não seja tão grossa assim! Que modos são esses de tratar o seu criador como um subordinado – disse a voz misteriosa nas sombras das árvores  –  Sendo eu o Deus do relâmpago.
Reconhecendo a voz, de imediato, percebi que quem estava à minha frente era meu amado: Tupã.
Surpreendida com a aparição de Tupã, caí em seus braços e, no momento, comecei a chorar, não conseguindo mais me conter.
Tupã me lançou um olhar confuso. Por segundos, ficamos em silencio até que Tupã se pronunciou:
– Mulher, por qual motivo você está chorando e ainda por cima na minha presença!
– Será que vou ter que recriar outra mulher para me servir? Minha nossa!
Percebendo as lagrimas escorrendo pelo meu rosto, enxuguei-me e disse:
– Não é nada, Vossa Majestade! Só estou emocionada com essa grande chance que o senhor me deu!
– Que bom que reconheceu o seu lugar – disse o deus Tupã – Logo, você se tornará minha mulher e deusa da lua. Juntos, governaremos o mundo. Você vai ser conhecida como a deusa Jaci.
– Fiquei feliz em rever-lhe depois de décadas.
A única coisa que me restava de Tupã era seu cadáver, mas, a todo o momento, eu  me lembrava de quando estávamos juntos em alegria, paz e harmonia.
Tudo estava perfeito! Tupã era o mesmo deus arrogante que me fascinava. Ele tinha um sério problema: garantir-me que acabaria com as tragédias.
Dúvidas circulavam em minha cabeça. Quando acordei, analisei a minha reencarnação. Mesmo confusa, voltei ao princípio, ao meu nascimento, onde o meu amado deu-me a vida.
Nada mudou desde a minha vida passada. Muitos obstáculos surgiram diante de nós para nos impedir de termos o total domínio da terra. Pensei:
– Desta vez nada será como antes. Mudarei o destino que me aguarda e criarei a minha própria história.
Em minha vida passada, estávamos tão felizes por, finalmente, termos conquistado o nosso objetivo. Os deuses estavam reunidos, inclusive eu e Tupã; estávamos decidindo qual domínio passaríamos a governar. Felizmente, passei a governa a lua, onde os humanos estariam ao meu lado. Tupã foi escolhido para ter o poder divino, mantendo harmonia entre os deuses e os humanos, criando-se, assim, o nosso santuário celestial.
A felicidade durou certo ponto. Os monstros chegaram a nossa terra, derramando sangue para todos os lados. Chamamos-lhes de Molaikes, criaturas cegas, sem sentimentos que se alimentavam dos medos. Muitos estavam devastando os humanos. Nós, os  deuses, tivemos que travar uma guerra imperdoável contra os monstros.
À medida que a guerra avançava, trazia a destruição dos seres vivos. Passamos a diminuir com o aumento de soldados Molaikes. Cada deus enfrentou, com bravura, até seus últimos suspiros. O resultando foi diferente do que pensávamos. Restou da guerra, somente eu e Tupã, lutando, a lado a lado. Tupã sacrificou-se por  mim, sendo morto por uma lança no peito. Como estava em desvantagem, recuei deixando a batalha. Quando estava chegando a um lugar para recomeçar um povoado para humanos, fui pega pelo Molaikes, os quais me forçaram a entregar a pedra da lua, que continha o poder supremo deixado pelos deuses. Tirei minha própria vida para garantir que o poder supremo não caísse em mãos erradas.
A partir de agora, garanto oportunizar a sobrevivência à humanidade e trazer a paz ao mundo. Estarei preparada para o confronto com os Molaikes.
E, assim a deusa Jaci passou a governar o mundo com o deus Tupã, fortalecendo os seus poderes para que o dia esperado chegasse. Os humanos passaram a aumentar o respeito pelos seus governantes. Jaci passou a dividir os governos entre os deuses e Tupã passou a governar cada um deles. Como esperado, o rei dos deuses garantiu a harmonia no reino das vegetações, dos humanos, dos deuses e dos animais.
O dia tão esperado tinha finalmente chegando, mas, desta vez, estava diferente do que no anterior. Os deuses estavam mais fortes, rápidos e espertos.
Suas técnicas não falhavam, tudo correndo de acordo com o planejado. Os Molaikes estavam em desvantagem, um momento glorioso para acabar com eles.
Em suas últimas jogadas, cada um dos deuses usou o seu poder, inclusive Jaci para destruir os corações dos monstros junto com a pedra da lua. Separados em pedaços, cada um foi divido em fragmentos nos corações dos monstros.
A guerra, enfim, tinha acabado. A humanidade viveu mais uma vez na tranquilidade. Os deuses, cansados da grande batalha, partiram para suas terras, convertendo-se em espíritos.
Quando tudo estava acertando-se, no seu devido lugar, o deus Tupã e a deusa Jaci se uniram em espírito, transformando=se em uma árvore celestial, que se tornou um santuário lunar.
Assim, tem sido contada a história da grandiosa deusa da Lua, passando de geração a geração com o grande significado que trouxe a terra.
Maria Fernanda da Silva Silva – 14 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 10/06/2021
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