O PRIMEIRO BEIJO Parodiando Clarice Lispector A professora mais tagarelava do que explicava. Os estudantes estavam batendo os pés, impacientes, esperando o sinal tocar. Para a sorte de todos, a secretária tocou o sinal cinco minutos antes. Todos pularam, com rapidez, das suas cadeiras e saíram às pressas, parecendo que ali era o inferno. Um menino, com algumas sardas, saiu com mais vergonha do que de costume. Era conhecido por fedidinho e sardento. Sua única amiga acompanhava-o, dirigindo-se à sala da coordenação, comumente conhecida entre os alunos como SOE. Outro menino, encrenqueiro e fofoqueiro, segui-os, parecia querer arranjar alguma confusão, o qual ficou escondido atrás de um pilar. A sala era pequena. A coordenadora, não entendendo a visita, perguntou: – O que você está fazendo aqui? – O Gui está ejaculando – respondeu a garota, bastante constrangida. Uma menina falar aquilo lhe soava estranho. Gui, confuso na sua inocência, sentia-se envergonhado: A coordenadora o abraçou e disse, num tom monótono, de quem está acostumada com situações como essa: – Gui, isso é normal. Você está se tornando um homenzinho! Guilherme, de imediato, sofreu um tremor que lhe tomou o corpo todo, deixando-lhe o rosto em brasa viva, mas, em seguida, sentiu-se aliviado como se tivesse descarregado toneladas de suas costas. Entretanto, o menino que ficara escondido atrás do pilar, ao sair, além de lhe assustar, passou a caçoar dele. – Sardento, você está assustado? Já passei milhões de vezes... Nenezão! Guilherme, chorando histericamente, dirigiu-se ao carro da mãe. A escola ficou sabendo do acontecido e, no dia seguinte, começaram a zombar do zombador: – João, o estraga prazeres! João, o chatinho!. A partir daquele dia, João não mais debochou de ninguém. Por perder suas amizades, entendeu quão chato é ser ridicularizado. Tiago Dariano Slompo – 15 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 20/05/2021
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