AMOR SUICIDA Quando Taís tinha dezessete anos, Igor estava na faixa dos trinta. Ele era de origem alemã, um tanto bonito; porém, sem grandes atrativos. Demonstrava dificuldades de socialização. Ora apático, ora agitado, comportamento que fazia as meninas terem medo de sua presença. Segundo, uma sobrinha, que fazia parte da turma, ele se inibia ao convívio familiar –, era indiferente aos acontecimentos do dia a dia e insensível no que se referia a afetos; no entanto, em todas as manhãs, saia de casa às 7h. Não imaginavam para onde ele ia, o que muito preocupava a família. Certo dia, enquanto Taís e sua prima se dirigiam ao colégio, sentiram que estavam sendo seguidas. Apressaram os passos e bateram na casa de uma colega. O pai da garota saiu e constatou que, um rapaz usando capuz no rosto, havia se escondido atrás de um muro. Receoso, pegou o carro e as levou à escola. No final da manhã, ao retornarem as casas, relataram o ocorrido. A partir desse dia, os pais se revezavam para acompanhá-las. Numa sexta-feira, surgiu um imprevisto e as meninas precisaram ir sozinhas. Ao dobrarem uma esquina, Taís foi puxada para um terreno baldio. A prima gritou por socorro, levando várias pessoas saíram à rua. O rapaz, frente à confusão, deixou o capuz, que lhe cobria parte do rosto, cair, sendo identificado pelos presentes. Igor, atropelando as palavras, disse: – Não ia machucá-la. Eu a amo. Só queria beijá-la. Situação sobre controle, as meninas foram ao colégio e um dos moradores, que presenciou o fato, foi à casa do rapaz. Lá chegando, contou o ocorrido. Após, ouviu da família que o jovem vinha apresentando transtornos comportamentais e que estava com consulta agendada com um psiquiatra, na capital, para a semana seguinte. Essa informação, de certa forma, tranquilizou as estudantes. Dias depois, a sobrinha de Igor comentou, na hora do recreio, que ele havia sido diagnosticado como portador de esquizofrenia, sendo incapaz de avaliar seu próprio comportamento, e encaminhado para o Hospital São Pedro, em Porto Alegre (RS). Retornando à cidade, três anos após, seu sentimento obsessivo por Tais continuava tão vivo quanto antes. Voltou a persegui-la e, num fim de tarde, ao vê-la, no portão de casa, beijando um rapaz, surtou. Desorientado, dirigiu-se ao rio que margeia a cidade, pegou uma canoa e remou a favor da correnteza. Além de a canoa estar bastante danificada, Igor não sabia nadar. Trabalhadores de uma olaria, que ficava próxima, tentaram salvá-lo, mas nada puderam fazer. Viram-no imergir aos poucos. Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 15/02/2021
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