Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



NA TEZ
 
Você não despia
Somente
O que eu vestia.
Não.
 
Quando seus olhos me encaravam
Feito faísca,
Eu os sentia penetrando minha pele;
Entravam tão fundo em meu coração
E rasgavam as frágeis teias que eu tecera
Em torno dele.
 
Julgava-me protegido
Até ser surpreendido com o seu estar.
Ele me bagunçava por completo
E desmontava os tijolos de papel
Com que eu construíra
Meu muro.
 
Enquanto você me olhava de cima
E suas mãos despiam
O que eu vestia,
Seu sorriso perigoso
Tirava minha pele.
Eu sentia no seu beijo o sabor da perdição.
Sabia dos perigos de me jogar de olhos vendados
Num oceano de espinhos.
 
Mas não sabia que
Ao pensar
Estar tomando cuidado,
No controle da situação,
Nas rédeas de minha condução,
Eu já estava há tempos afogado.
Julgava estar um passo à frente
Quando já estava
Vários abaixo.
 
Achava que via o brilho do sol
E que podia correr até ele
Quando bem entendesse.
 
Eu só não sabia que a luz que eu via
Vinha de baixo,
Do fogo que ardia no cerne do mar,
O mesmo fogo que dançava em seus olhos
Quando dizia me amar.
 
Num abraço sutil
Fui envolvido pela corrente.
Achava que via o brilho do céu,
Mas tudo o que eu via
Vinha do fundo.
Assim nadava despropositado
Sem sentir o perigo
Que me espreitava do escuro.
 
Julgava ser marinheiro de todos os mares,
Mergulhador de outros confins.
Tinha comigo
Que era
Mestre
Do meu próprio navegar.
 
Então seguia com braçadas
Para a luz do sol,
Para o brilho quente que ardia e que parecia
Guardar a porta de entrada,
O princípio de tudo.
 
Mal sabia que ia de encontro ao final,
Ao fogo que lambia as gotas da água
E que me condenava a queimar,
Noite após noite,
Nas profundezas desse seu mar.

 
Ariel Fedrizzi - 24 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 07/10/2020
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