NA TEZ Você não despia Somente O que eu vestia. Não. Quando seus olhos me encaravam Feito faísca, Eu os sentia penetrando minha pele; Entravam tão fundo em meu coração E rasgavam as frágeis teias que eu tecera Em torno dele. Julgava-me protegido Até ser surpreendido com o seu estar. Ele me bagunçava por completo E desmontava os tijolos de papel Com que eu construíra Meu muro. Enquanto você me olhava de cima E suas mãos despiam O que eu vestia, Seu sorriso perigoso Tirava minha pele. Eu sentia no seu beijo o sabor da perdição. Sabia dos perigos de me jogar de olhos vendados Num oceano de espinhos. Mas não sabia que Ao pensar Estar tomando cuidado, No controle da situação, Nas rédeas de minha condução, Eu já estava há tempos afogado. Julgava estar um passo à frente Quando já estava Vários abaixo. Achava que via o brilho do sol E que podia correr até ele Quando bem entendesse. Eu só não sabia que a luz que eu via Vinha de baixo, Do fogo que ardia no cerne do mar, O mesmo fogo que dançava em seus olhos Quando dizia me amar. Num abraço sutil Fui envolvido pela corrente. Achava que via o brilho do céu, Mas tudo o que eu via Vinha do fundo. Assim nadava despropositado Sem sentir o perigo Que me espreitava do escuro. Julgava ser marinheiro de todos os mares, Mergulhador de outros confins. Tinha comigo Que era Mestre Do meu próprio navegar. Então seguia com braçadas Para a luz do sol, Para o brilho quente que ardia e que parecia Guardar a porta de entrada, O princípio de tudo. Mal sabia que ia de encontro ao final, Ao fogo que lambia as gotas da água E que me condenava a queimar, Noite após noite, Nas profundezas desse seu mar. Ariel Fedrizzi - 24 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 07/10/2020
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