Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos


 
DAS COISAS QUE A TECNOLOGIA NÃO COMPRA
 
Por mais avançada que a humanidade esteja no campo da tecnologia, existem algumas coisas que jamais serão replicadas por máquinas.
Ver a lua ao vivo e sentir o cheiro de praia, o frescor do pão ao amanhecer, a performance do artista sobre o palco tendo como lente apenas o olho nu.
O aroma de livros novos e o carinho que proporcionam ao toque. As letras em alto relevo na capa, a escrita em braille.
A sensação revigorante de sentir os raios de sol beijando a pele, cedo pela manhã. O vento cortante, e também o vapor dos grandes caminhões quando param ao nosso lado.
Banho de chuva. Beijo na boca. Beijo na boca debaixo de chuva – e de sol também. Borboletas no estômago quando o olhar cruza com o daquela pessoa especial.
Aquela pessoa especial. O som da sua voz, a carícia na derme, na epiderme, no coração.
Tardes preguiçosas de domingo, fingindo que o tempo não existe. As olhadas para o relógio quando se acorda atrasado numa terça-feira; o alívio por chegar na hora.
Fitas de presente que são rasgadas às pressas para revelar a surpresa de dentro. A própria surpresa. Expectativa. Nervosismo. Decepção. Realização. Sonhar acordado durante a aula, revivendo momentos. Fantasiar o que ainda não se viveu.
Andar de bicicleta, de patins, de patinete. Sentir o vento despenteando os cabelos enquanto os pés latejam na adrenalina de vencer. Perder. Aprender com a derrota e tentar de novo – mas não numa tela de game over.
Recomeçar de onde se parou, mas entender que nem sempre é possível. Por isso, valorizar o ponto em que se está agora. Valorizar o frio nas mãos, o sangue que corre nas veias, a dor de barriga (por que não?).
Valorizar os sopros, os cheiros, os sabores e os dessabores. Valorizar o sorvete de morango e o jeito engraçado como a criança corre pela casa. Valorizar o todo, mas também os detalhes. Não menosprezar a grandiosidade de um carinho na bochecha e da grama recém-cortada só porque existem coisas mais caras.
Dirigir um esportivo e viajar de avião são ações tão humanas quanto sentar na calçada e beber uma cerveja. E todas elas servem para nos mostrar que há coisas que jamais serão copiadas em sua essência, não importa o quão “à frente do tempo” possamos estar.
Simplesmente porque são coisas não passíveis de compreensão. Só de sentimento.
Ariel Fedrizzi - 23 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 09/02/2020
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