Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



CASA CAMALEÃO
 
Há pouco o que não combine na tal Rua de Todos os Anjos. Das mais diversas casas aos seus mais diversos moradores, tudo que existe lá, se encontra em harmonia. Sempre, tudo tranquilo. Não há brigas, nem festas, há apenas famílias tranquilas vivendo suas vidas, sem fortes emoções. As casas de cores neutras compõem a rua, e as crianças brincam dentro de suas casas, mesmo não havendo perigo algum do lado de fora.
Após uma noite, longa e calma, pela primeira vez, se viu uma movimentação incomum na rua. As portas e janelas abriam e fechavam seguidamente para ver a mudança repentina na fachada da casa ao final da rua. Era uma casa grande, de dois andares, telhado pontudo, janelas com venezianas de madeira na frente e uma varanda com um cercadinho adorável. Estava sem nenhum morador há alguns meses, mas parecia que isso logo mudaria, pois da noite para o dia a casa mudou de cor. A casa, que sempre havia sido bege com janelas de madeira clara, amanheceu toda colorida.
Os degraus que davam para a varanda eram verdes e roxos, o cercadinho turquesa e as paredes eram um amarelo alaranjado. Nunca se viu tanta cor na Rua de Todos os Anjos e não se tinha notícia de reformas ou chegada de novos moradores. De qualquer forma, ao fim do dia a mudança já havia sido esquecida.
No dia seguinte, a casa estava diferente outra vez. Paredes azuis, telhado rosa, degraus brancos, cercadinho lilás e janelas verde limão. Todos estranharam a mudança, e começaram a procurar informações sobre novos moradores.
Mais um dia se passou e novas cores apareceram. Paredes laranjas com manchas roxas, escadas verdes claros, janelas azul marinho e degraus amarelos. Foram ao cartório, nada foi encontrado a respeito de novos moradores. Alguns homens se aproximaram da casa, não havia sequer cheiro de tinta. No quarto dia de mudança de cores na fachada da casa, em uma reunião de moradores, decidiram instalar câmeras de vigilância. As cores eram, vermelho, verde, azul bebê e laranja.
No quinto dia, alguns homens resolveram entrar na casa. Subiram na varanda, a tinta estava seca e sem cheiro. Tentaram abrir a porta, estava trancada. Espiaram por uma fresta na janela da frente, a casa estava vazia.
As câmeras de segurança nunca registraram ninguém se aproximando da casa durante a noite, o vídeo simplesmente avançava para uma parte onde a casa já estava pintada de uma maneira diferente.
Dois meses se passaram e todos já estavam acostumados com as mudanças sem nenhuma explicação. As crianças iam brincar fora, para poderem ver as novas cores, e as famílias começaram a comprar flores coloridas para enfeitar a Rua da Casa Camaleão.
Renata Machado Gianichini Cardoso - 18 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 02/02/2020
Alterado em 02/02/2020
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