Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



PERSISTENTE ALEGRIA

Passo do Vigário, 9,5 quilômetros da região central de Viamão (RS), uma pequena casa laranja rodeada de uma imensidão de natureza e diferentes tons de verde, um simples portão de madeira, três cães de guarda com criativos nomes e uma estrada de chão batido para chegar até lá, mas a visita vale pena.
Iracema Calza Santos, descendente de italianos, nascida em Casca, município do Rio Grande do Sul, onze irmãos, entre eles, seis homens e cinco mulheres. Encanta a todos por onde passa, por ser muito carismática, e em razão disso, não tem dificuldades em fazer amizades, possui um sorriso acanhado adorável. 
A família de Iracema não tinha boas condições, seus pais trabalhavam na colônia o dia inteiro, enquanto ela, pequena, passava o dia inteiro fazendo tarefas domésticas. 
Cursou até a quinta série na sua cidade natal e depois, parou pela falta de condições de seus pais pagarem seus estudos, mas Iracema nunca desistiu de ter uma formação, era uma menina esforçada e estudiosa.
Sua irmã, Nair, com apenas nove anos, mudou-se para Guaporé (RS), pequena cidade localizada no Rio Grande do Sul, onde ficou morando na casa de uma senhora de naturalidade italiana, chamada Alfreda Moser, na qual, deu apoio para Nair concluir os estudos. 
Por sugestão de sua irmã Nair, Iracema, com catorze anos, mudou-se para Viamão para a casa da filha de Alfreda, Flávia Moser, casada com Paulo Schenini, assim, retomando o ensino fundamental e recebendo todo o carinho, incentivo e apoio para realizar seus sonhos. 
Cursando o colégio, conheceu o amor de sua vida, Renato Santos, o qual, saía para passear todos os domingos quando tinha folga de suas tarefas.
Concluindo o segundo grau, fez vestibular para pedagogia e classificou-se em segundo lugar na lista de aprovados. A garra de Iracema era imensa. Sua força de vontade a presenteou com o tão estimado diploma. 
Com seu título de pedagoga, casou-se com Renato e mudou-se para sua atual e aconchegante casa no Passo do Vigário. 
Iracema foi aprovada em muitos concursos no estado, mas nunca foi chamada. 
Os anos se passaram e Flávia Moser adoeceu. Iracema, em gesto de gratidão, voltou para a casa da família Moser, dando todo o suporte que eles precisavam naquele momento. Considerava Flávia como sua segunda mãe, o carinho entre as duas era mútuo. Sendo assim, Iracema não deixou mais aquele lar. 
No ano de 1995, chegou Maria de Lourdes e, desde então, o vínculo com Iracema só ficou mais forte. 
Maria, uma menina travessa e distraída na hora do aprendizado, apelidou Iracema como "Memema" quando pequena. Não admitia que Iracema dormisse em outro quarto a não ser o dela. 
Iracema tem muito orgulho de afirmar que alfabetizou Maria de Lourdes. Além da alfabetização, Iracema deu auxílio da primeira até a quarta série do ensino fundamental. "Maria sentava do meu lado e pegava uma revista CARAS, queria que eu lesse o que estava escrito, eu incentivava Maria a aprender a ler, comecei a fazer esquemas de cartolina coladas por toda a casa com as regras de alfabetização, Maria aprendeu a ler e pegou gosto pela leitura, enriqueceu-me, aprendi muito com a Maria, ela é a filha que eu não tive." 
No ano de 2013, Renato foi submetido a uma cirurgia no coração, na qual dali em diante exigia muitos cuidados. Iracema passou a dedicar-se unicamente a cuidar de seu marido. O afeto entre as famílias permaneceu. 
Cozinheira de mão cheia, Iracema sabe fazer deliciosas massas caseiras, ninguém faz ravióli, nem sopa de capeletti melhor do que ela. Dotes culinários que só gringos possuem. Para suas visitas, sempre frita pastéis de carne, os quais são impecáveis no sabor.
Simplicidade, uma palavra que a define por completo. 
Iracema não teve filhos, mas isso nunca interferiu na sua felicidade, na hora de falar sobre seu marido Renato, o enche de elogios e afirma que não tem do que reclamar. 
Quando se lembra do que a família Schenini fez por ela, respira fundo e tranquiliza sua expressão. "Tudo que sou hoje, é graças ao Doutor Paulo e a Dona Flávia, fui uma menina que saiu da colônia e encontrou essa família que me possibilitou ter um estudo, até hoje sou ligada a eles. Venci na vida."
Maria de Lourdes Schenini Rossi Machado
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 20/07/2018
Alterado em 20/07/2018
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