Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



POR ÉPOCAS PASSADAS, UMA VIAGEM NO TEMPO.
 
Lisboa (PT), setembro de 1544. Ao andar à margem do Rio Tejo, deparei-me com um grupo de jovens que ora cantavam, ora declamavam poesias. Ao aproximar-me, olharam-me surpresos.
Senhora, aqui não é lugar para ficar, alguém falou. Ignorando a observação, parei e deixei-me embebecer pela poesia. Ao ouvir “A Vós seu Resplendor deu Sol e Lua” e “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”, perguntei quem era o autor de tão belos versos. Um dos rapazes explicou que Luís de Camões era o responsável e, que Sá de Miranda, ao retornar da Itália, onde fora estudar, trouxe esta modalidade poética, que fora criada por Francesco Petrarca, poeta italiano, e que era conhecida como “dolce stil nuevo”, o soneto.
Manifestei minha vontade de conhecer o autor, e, a passos lentos, chegou-se a mim um garoto, dizendo chamar-se Luís Vaz de Camões. Com firmeza, falou que, pelo grupo levar um estilo de vida boêmio, não ficava bem uma senhora estar falando com eles. Senti em suas palavras, dignidade e respeito. Ao afastar-me, alguém disse:
– Os versos de nosso amigo nunca morrerão. Ele será, um dia, considerado o maior poeta português e visto como de inestimável valor literário. Não esqueças disso!
 
Steventon, Hampshire, zona rural da Inglaterra, dezembro de 1797, local onde nasceu Jane Austen, escritora inglesa, considerada uma das maiores romancistas da literatura inglesa do século XIX.
Tenho aproximadamente, 22 anos. Trago nas mãos um exemplar do livro "Razão e Sensibilidade". Encantada com o livro, tropeço numa jovem que, ao se apresentar, diz se chamar Cassandra e irmã da autora.
Entusiasmada, peço-lhe que fale um pouco de Jane. Comenta que a irmã, na adolescência, já mostrava seu talento para as letras, assim como preocupação em retratar a sociedade provinciana da época e a busca das mulheres por um casamento como a única forma de ascender socialmente.
Despedimo-nos e, enquanto percorria o povoado, ponderei seu comentário e o considerei fascinante.
 
Paris (FR), 1857, época em que os bons costumes eram norteados pela igreja e pela sociedade, o romancista Gustave Flaubert causa escândalo, ao lançar o livro Madame Bovary.
Após ouvir críticas sobre a temática da obra, fui à Saint Elisée, a procura da polêmica obra. Na livraria, o atendente disse-me que a época exigia romances familiares, não mundanos. Frente a tais palavras, minha curiosidade aguçou-se. Vi o escritor como corajoso e inovador, alguém disposto a mudar o cenário da literatura mundial, expondo uma realidade até então omitida.
Embora o meu francês não fosse fluente, com afinco, dediquei-me à leitura. Emma, a personagem principal, uma mulher sonhadora, criada no campo, que aprendeu a ver a vida através da literatura sentimental, era envolvente e sedutora.
Ao longo da narrativa, foi possível observar o estilo e a preocupação do autor com a linguagem. Mestre com as palavras, Gustave Flaubert foi minucioso na caracterização de suas personagens.
Madame Bovary tornou-se famoso por sua originalidade e por levar o leitor a reflexões sobre o verdadeiro significado de ser feliz.
 
México (ME), 04 de marco de 1981, em visita à Biblioteca da Universidade Nacional Autônoma do México - UNAM, obra construída pelo arquiteto e pintor Juan O'Gorman entre os anos de 1949 a 1951, inaugurada em abril de 1956, tomei conhecimento que, naquele fim de tarde, Gabriel Garcia Márquez estaria autografando seu novo romance “Crônica de uma Morte Anunciada".
Meu coração acelerou. Tenho-lhe como um dos mais importantes escritores do século XX. "Cem Anos de Solidão", onde mistura o épico com o realismo fantástico, li e reli várias vezes.
Corri a uma livraria; adquiri o livro e fui a primeira a pegar o autógrafo do escritor colombiano, nascido em Aracataca. Seu carisma compensou meus esforços.
No hotel, deliciei-me com o romance, no qual o autor sustenta uma tensão dramática, embora revelando, no início, o destino de alguns dos personagens.
 
Rio Grande do Sul (BR), 27 de janeiro de 2018, provida do imaginário e de realismo, realizei, por épocas passadas, uma viagem no tempo, em que ousei de poderes de observação e dos registros armazenados em minha memória das leituras realizadas, resgatando vivências de viagens e conhecimentos adquiridos ao longo destes quase 69 anos, com muita percepção psicológica e amor à literatura.
Nesta tarde, transformei meu imaginário em realidade, momento que me levou a “poetar”, isto é, trabalhar sentimentos e explorar as sensações através de quatro aventuras ímpares. 


Imagem - Créditos: Roberta Beckmann Hoffmann
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 02/02/2018
Alterado em 02/02/2018
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