SOMBRAS NA JANELA Há muito Eduarda não se animava com nada. O abraço de uma menininha trouxera-lhe fé, alegria e a certeza de que, em breve, voltaria a compartilhar momentos felizes ao lado dos pais. À medida que as horas passavam e a luz do sol ia entrando na sala de estar pelas nesgas das árvores, reacende a esperança. Sobre a mesa, na capa do jornal, em manchete, lê: “Proprietários da Confeitaria Pão de Mel”, Sr. Gabriel e esposa, D. Natália, continuam desaparecidas. O desejo de abraçá-los e o perfume das plantas envolveram-na ao longo da manhã, assim como o companheirismo e o amor do marido. Trinta dias de ausência e expectativas marcavam o seu sofrimento. Luís, por trás da janela do quarto, onde estava hospedado com a família, observava o entrar e o sair do Hotel. Na ala esquerda, no jardim, brincavam os irmãos, indiferentes às árvores que ficavam muito próximas uma das outras, que o sol mal conseguia penetrar; a mãe, com um sorriso nos lábios, andava, entre os canteiros, caminhos cobertos de pequeninas pedras e folhas secas. Ele, alerta, controlava a saída do pai. Tinha de descobrir o mistério que o cercava. Às 13 horas, viu-o deixando o local. Com cuidado, Luís deixou o hotel e dirigiu-se ao ponto de táxi. Chegando, pediu ao motorista que seguisse o carro que ia à frente. Qual surpresa do adolescente ao constatar que o caminho que percorriam era o de sua casa. Ao aproximar-se, percebeu sombras na janela de seu quarto. – Quem seriam?!... Algo estava acontecendo. Havia um clima de mistério. O menino fez tempo, no jardim, para não ser visto. Assim que o carro se afastou, dirigiu-se ao telefone público e ligou para a residência de sua pediatra, Dra. Eduarda. Um dos empregados atendeu e o informou que a patroa estava na clínica. Ele, aflito, pediu que lhe fornecesse o número do celular. O funcionário respondeu que tinha ordens contrárias, não sendo possível. – Moço, o caso é de vida e morte. Preciso falar com ela. Diga-lhe que sei onde estão o Sr. Gabriel e a D. Natália. – Garoto, vá dormir. Que feio brincar com o sofrimento dos outros. – Moço, estou falando sério. O casal está em poder de meu pai. Ele não é bandido. Não sei o que está acontecendo. Ajuda, por favor! No outro lado da linha, um longo silêncio; depois... – Anota... Luís ligou para Dra. Eduarda que, ao atender, pouco entendeu. O garoto, de tão nervoso, engolia palavras. – Seus pais estão na minha casa. Venha buscá-los. – Onde moras? – Senhora, prometa-me que não nos fará nenhum mal. Papai deve estar doente. Antes, ele era muito carinhoso comigo e com os meus irmãos; hoje, não nos dá à mínima. Prometa... Prometa! Eduarda, sensibilizada com o desespero do menino, disse-lhe: – Prometo. Tu serás um grande homem. Onde moras? – Moramos em Santa Clara. O endereço é... Eduarda foi ao encontro do marido e relatou-lhe o ocorrido. Finalmente, iria rever seus progenitores. Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 07/09/2016
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