Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



TRISTE DESTINO
 
O céu estava na mais completa escuridão, e as ruas totalmente desertas. Sentado, em uma sala de espera de um hospital, Seu João vê o médico aproximar-se. Esse lhe dá a notícia que seu neto e a esposa não suportaram aos ferimentos e faleceram. O idoso não consegue disfarçar o mal estar que a notícia lhe causara. Em seus olhos, lágrimas e um intenso vazio; no ar, um estranhamento a ser explicado. Gabriel e Victória, que faziam trabalho voluntário no hospital, aproximaram-se dele e lhe abraçam com carinho. Via-se, em seu rosto, angústia e tristeza. Após alguns minutos, Seu João pediu a Gabriel que o acompanhasse até a recepção, precisava tomar algumas providências.
Assim que se afastaram, Seu João informou a Gabriel que seu neto e a esposa haviam falecido e que os dois eram tutores dos netos órfãos. Queria encontrar respostas e justificativas para o que estava acontecendo!? Emocionado, disse ter, em segundos, recapitulado sua vida à procura de algo de ruim que tivesse feito para estar passando por tamanho sofrimento. E os bisnetos? Pobres crianças!?
Renata estava com sete aninhos e Leonardo, cinco. Até então, eram crianças felizes, alegres, dóceis e extremamente graciosas. Tez clara, cabelos pretos lisos e olhos esverdeados davam-lhes uma beleza singular. Do dia para noite, suas vidas mudaram completamente. Sem os pais e não tendo mais os avós vivos, restavam-lhes apenas eles, os bisavós. O que seria deles? Receava que o Conselho Tutelar pudesse vir a incomodá-los, argumentando que eram muito idosos para se responsabilizarem por Renata e Leonardo. Rezaria muito pelos pais e pelos avós dos bisnetos e pediria a Deus que lhes dessem saúde e força para criá-los e, em morte dele e de sua esposa, desse às crianças uma família que os amassem como eles os amavam. Gabriel comoveu-se com tais palavras e, num gesto puro e espontâneo, falou:
– Seu João, desejo que o Senhor e a Dona Maria vivam muito, mas se isso não for a vontade de Deus, Victória e eu cuidaremos de Renata e Leonardo.
Tomadas as providências, foram ao encontro de Dona Maria e de Victória. Ao vê-los, as duas compreenderam o que tinha acontecido. A pior missão estava por vir, falar as crianças do triste destino dos avós. Dona Maria, achou que Victória era a pessoa indicada.
Gabriel, sentindo-se inseguro, telefonou aos pais pedindo que fossem ter com eles e que avisassem os pais da namorada, certamente estavam preocupados.
As crianças receberam a notícia com muita dor. Renata, embora com o coraçãozinho tomado de sofrimento, rezou pelos avós e agradeceu a Deus por não estarem sós. Naquela noite, pouco dormiram.
O ruído das folhas agitadas pelo vento minuano e o momento levaram Victória a um passado longínquo. Viu-se, entre algumas crianças, brincando de roda e esconde-esconde; brincadeiras que hoje não são nada comuns.
Envolta pela infância, não viu o tempo passar. Seu encantamento e magia foram quebrados pela buzina de um carro. Aproximando-se da janela, viu um carro chegando. Dele, desceram seus pais e os pais de Gabriel; o que a tranquilizou bastante.
Gabriel, meia hora depois, chegou para levá-los aos funerais do casal. Finalmente, o vento forte dera lugar a uma brisa acolhedora, que parecia acariciar a todos, transpassando-lhes muita fé e paz. O canto dos pássaros chegou aos seus ouvidos como uma doce música. A luz do dia, para o casal falecido, um triste destino; para os demais, luz e esperança.
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 19/06/2015
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras