CABELOS BRANCOS Num leito de hospital, Maíra relembra o passado. Ora momentos fagueiros compartilhados com os irmãos, ora momentos dedicados ao esposo e às filhas. Tudo lhe parece normal. A única “coisa” que lhe incomoda é estar usando uma meia furada. O furo, de tão minúsculo, ninguém o vê; apenas ela. Cabelos brancos, noventa e seis anos, bastante vaidosa e cuidadosa, qualidades incentivadas e motivadas por uma das netas, que a maquia com carinho e amor para mantê-la sempre bela e atraente. O batonzinho não pode ser esquecido. Pijama e meias devem combinar. “- Não é carnaval! O que dirão médicos e enfermeiros de uma velha fantasiada?!...” Enquanto nós, familiares, estávamos super apreensivos e preocupados com o seu quadro clínico, ela dava dicas de como deveria ser o seu funeral. A serenidade como abordou o assunto, deixou-nos boquiabertos. Num certo momento, sentou-se na cama e começou a cantar. Quando questionada por uma das filhas, respondeu: - Estou testando a minha voz. Sua rápida recuperação deixou familiares e equipe médica perplexos. O tempo tem muitos tempos, e não foi dessa vez que Maíra nos deixou. Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 14/07/2013
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