Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



UM PASSEIO DE BONDE
 
1967, milhares de fantasias passavam pelos pensamentos de uma garota interiorana, ao saber que conheceria a capital gaúcha. Imaginava que iria ver pessoas e coisas diferentes das de sua cidade.
Daniela viajou para Porto Alegre no trem Minuano, por ser mais confortável e rápido. Curtia mini-saias, vestidos tubinhos, sapatos de saltos altíssimos e uma boa maquiagem. Tudo a deslumbrava!
Numa manhã de primavera do mês de outubro, fez seu "dramático" passeio de bonde. Usava, na ocasião, um minúsculo vestido amarelo ouro, sandália e bolsa gelos. Acompanhava-a sua futura cunhada. Dany acomodou-se rapidamente, deixando Beatriz à sua esquerda.
No momento que o bonde se pôs em movimento, faíscas foram percebidas pela jovem, a qual deduziu que o transporte estava incendiando e, ainda na Praça XV, jogou-se do veículo aos gritos. Na confusão que criara, perdeu os sapatos e a bolsa e quebrou o pé esquerdo. Alguns riram; outros a olharam surpresos. O clima constrangedor foi quebrado por um rapaz moreno, alto e atencioso que lhe perguntou se precisava de ajuda, prontificando-se a acompanhá-las de táxi ao Pronto Socorro.
Durante o trajeto até o hospital, por vários momentos, o garoto emprestou seu lenço para Dany enxugar as lágrimas; algumas de dor, outras de vergonha.
Após o atendimento médico, despediram-se com um forte aperto de mão.
Daniela guardou o lenço do "trágico passeio" junto a outras lembranças de sua adolescência. Nele havia um nome bordado em ponto cruz que, com o passar do tempo, foi esquecido.
Trinta anos depois, radicada em Porto Alegre, precisou trocar as lentes dos óculos. Suas colegas de trabalho lhe recomendaram um excelente oftalmologista. Marcou a consulta e, na data agendada, compareceu.
Ao sentar-se diante do médico, reconheceram-se como os jovens do "desastroso passeio de bonde". Entre risos e a alegria do reencontro, relembraram o fato até serem interrompidos pela secretária que avisava que a paciente das 17 horas queria saber se seria ou não atendida.

 
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 25/04/2013
Alterado em 09/01/2014
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