Recentemente, voltei a minha cidade natal a fim de visitar familiares. Pensei encontrá-la mais desenvolvida, mas, para meu desencanto, constatei extrema regressão. Ao ver que o velho cinema e o tradicional clube da rua principal não mais existiam, enchi-me de grande tristeza. Com eles, grandes momentos foram perdidos.
Na 5ª Feira, à tarde, convidada para um chá na confeitaria do centro, aceitei de pronto. Às dezesseis horas, lá estava eu, com um pequeno grupo remanescente dos meus tempos escolares. Conversa vai, conversa vem, perguntei se, Dona Anésia, (senhora muito vaidosa, hoje beirando os setenta anos) ainda morava na cidade. Maliciosa troca de olhares entre minhas três amigas, Claudete relatou o que segue.
Mais ou menos há uns dois anos, a senhora cogitada por mim, esteve doente. Pneumonia. Ao retornar do hospital, uma semana depois, era sábado, sentindo-se muito bem, uma espiada ao espelho, cabelo precisando de um novo corte, decidiu, estava na hora de tornar-se loira também. Rápido, ajeitou-se, apanhou a bolsa e saiu.
Pessoas cruzando, a contemplavam amigáveis, num aberto boa tarde. E ela, toda feliz, agradecia a Deus, mais uma vez, a rápida recuperação. E pensava, como relatou depois, o quanto o mundo, e, as criaturas eram legais, amigos; principalmente, na sua cidade; interiorana sim, mas quão diferente dos desalmados habitantes dos grandes centros. O que lia nos jornais, sobre Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, era de arrepiar. Coração e passos leves, permitindo-se até um suave rebolar, cruzou as ruas do centro, ela, nessas alturas, esboçando rasgado sorrisos às pessoas, prontamente esses retribuídos, alcançou finalmente o salão de beleza, onde a proprietária, fez questão de atender tão simpática frequentadora, que foi logo declarando, iria fazer tudo que tivesse direito; corte, tintura, sobrancelha, buço. Ao final, contemplando-se ao espelho, não pode evitar um gritinho de satisfação. Às palavras, a senhora está linda, concordava com um aceno de cabeça, explicando, a produção tinha em vista, o baile da terceira idade, domingo. Amanhã, concluía.
Repentino, à porta de entrada, sua vizinha invejosa. Morria de ciúmes dela, Anésia. Tudo por causa dos bailes da terceira idade; pois enquanto a outra, não conseguia pretendentes, ela, sempre era muito requisitada. Assim, ar vitorioso, estampado no rosto, ergueu-se da cadeira, e num rebolado, lembrando mais um claudicar, mãos estendidas dirigiu-se à "Invejosa", que a percorrendo com os olhos de cima a baixo, sorriso zombeteiro, soltou a pergunta:
– Então, lançando moda, hein, com um pé calçando chinelo rosa choque e o outro, sapato preto?