Às 18 horas, noite... A escuridão chegou inesperadamente, entrando por portas e janelas, apagando luzes e trazendo uma vasta enxurrada, a qual parece digladiar-se com os galhos das árvores e com as vidraças. E é nesse ambiente que recebo a visita de uma graciosa menininha. Há muito não ouvia uma voz tão doce e suave. Aos poucos, fui resgatando a tranquilidade e o equilíbrio. Olhei-a interrogativa, de um jeito que era só apreensividade; todavia, não deixei de transpassar-lhe afetividade e amor.
De um lado, questionamentos, dúvidas e fraternidade; do outro, determinação, simplicidade e mistério. Entre nós, muitas diferenças: faixa etária, tons de pele, olhos e cabelos; e muitas semelhanças: modo de ser, de agir e o fazer poesia. Ela é segurança e naturalidade, movimenta-se e fala com discrição e docilidade; eu, espanto e busca de esclarecimentos.
A minha visitante era uma adulta experiente. Transmitia confiança em suas palavras e gestos. Enquanto eu era uma menininha frágil e desprotegida. Inesperadamente, ergue a cabeça positiva e firme, com sorriso no rosto, olhar brilhante e acolhedor, respira fundo e diz:
- Meu amor, põe tua cabeça no meu colo que eu te protejo!