Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



MINHA HISTÓRIA DE NATAL!
 
A noite chegou suavemente e a euforia era intensa. Meu sono foi muito agitado e, ao ouvir o canto dos galos, fui a primeira a pular da cama. Corri para o pátio e respirei fundo, enchendo os pulmões de um gostoso perfume floral. A natureza estava tão radiante quanto eu, pois compartilhávamos as mesmas expectativas natalinas. Fascinada com o canto dos pássaros, dirigi-me ao jardim. Gotas de orvalho cintilavam nas plantas e nos arbustos, verdadeiros cristais. Aos olhos e fantasias de uma menininha de sete anos, emitiam raios coloridos, os quais se dissipariam com o calor do sol, confirmando a presença do Papai Noel por perto. Sentia-me poderosa, a dona do mundo e, ao ver um pequenino beija-flor pousar numa flor, passei a persegui-lo, tentando pegá-lo mas, por azar, tropecei na raiz de uma árvore e cai. O acidente deu fim a minha perseguição. Sentei-me no chão, olhei para o meu pé esquerdo e vi que havia quebrado um dos dedinhos, o anelar. Com muita calma e com tranqüilidade, tentei unir as partes, pois ficará preso só pela pele de baixo - fratura exposta. Triste e decepcionada com o meu insucesso, apoiei-me no tronco da cruel árvore, levantei e, saltitando, dirigi-me à porta dos fundos. Minha mãe e minhas tias, ao ver-me, gritaram apavoradas. Afirmei-lhes que não era nada, que só precisava de um pouco de cola e que tudo ficaria bem. Riram e, imediatamente, vi-me no colo de meu avô.
Minha travessura, por alguns instantes, conseguiu interromper os preparativos para a ceia de Natal. Meu avô levou-me ao hospital. Eu, sem entender nada, observava a todos. "Por que tanta correria se um pote de cola poderia resolver tudo? Adulto complica!..." Enfermeiro, raios-X, médico, sala de gesso, tala, alguém falando:
"- Que belo presente o Papai Noel te trouxe, queridinha!" Achei a observação idiota, embora tenha ficado um pouco assustada e preocupada. Como poderia Papai Noel, um velhinho simpático e encantador, ser cruel comigo? Teriam minhas travessuras sido muitas? Era difícil entender, ainda mais quando já começava a sentir dores. Enquanto saíamos, o médico avisou que eu teria que ficar em repouso por trinta dias; não poderia apoiar o pé, em hipótese alguma; logo, não poderia procurar, à noite, os meus presentes - era costume colocarem, um, embaixo da árvore de Natal para cada criança, dois eram entregues pelo Papai Noel e, os demais, escondidos pela casa, galpão de fogo e, até mesmo, no pátio. Desesperei-me e as lágrimas passaram a cair intensamente como água em dia de enxurrada.
Meu avô, carinhosamente, tentou acalmar-me e disse-me que Papai Noel estava vendo tudo; assim, acharia uma solução para eu receber os presentes. Às 20 horas, minha avó avisou-nos que vovô havia ido à casa de seu irmão e que todos deveriam se arrumar para a chegada do Papai Noel. Embora não pudesse brincar e curtir o momento como as outras crianças, mamãe botou-me um vestido rosa, cheio de fitas e bordados e, em seguida, deitaram-me num sofá que fora especialmente colocado, na sala de jantar, para mim. Meus primos e irmão corriam felizes e alegres; eu, triste e desolada. Enquanto aguardava o grande momento, tentei ler, mas não consegui concentrar-me na leitura.
De repente, passamos a ouvir o toque de uma sineta, "Papai Noel chegando! - dizia a meninada. Olhei para o jardim e vi-o descendo da carruagem. Vestia vermelho e branco e trazia, nas costas, um imenso saco de presentes. De imediato, perguntou por mim e a turma foi explicando: "-Está deitada no sofá, pois quebrou um dedinho do pé." Beijou cada uma das crianças e, depois, aproximou-se do local onde me encontrava. Quando me abraçou, reconheci o perfume de vovô. Olhei-o com fascínio e sorri; pegou minha mãozinha, acariciou-a e a beijou vagarosamente. Senti que percebera minha descoberta, mas nada foi dito. Trocamos um lindo olhar, "gesto puro e autêntico de cumplicidade e segredo". Meus presentes, recebi todos de Papai Noel! As outras crianças continuaram, por muito outros Natais, acreditando que Papai Noel existia.
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 03/06/2010
Alterado em 09/01/2014
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