Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



UMA COLETÂNEA SINISTRA E MISTERIOSA!
 
Frequentemente, vejo-me a pensar nas razões, nas ideias e nos princípios que levam algumas pessoas a semearem mentiras, hipocrisia e hostilidade. Para afastar-me de tais pensamentos, envolvo-me com uma boa leitura.
Rapidamente, com os olhos, busquei a mesinha de canto da sala de estar, onde colocara uma coletânea que havia ganho no dia anterior. A obra era volumosa e as cores da capa davam um efeito contrastante e misterioso: uma mistura de raios luminosos e trevas, de planícies e penhascos, de vales e maremotos. Senti-me levada a manuseá-la e, ao levantar-me para pegá-la, vivo uma sensação esmagadora. Estava paralisada e não conseguia andar. O coração disparou e minhas mãos ficaram frias. Surpreendentemente, por alguns segundos, faz-me perder a noção de espaço e de lógica. O ar foi ficando impregnado de um cheiro forte de jasmim e um longo arrepio passou-me pelo corpo. O clima era pesado e misterioso. Dirigi-me à janela e observei, longamente, os canteiros de flores que contornavam a casa. Surpresa, vi que não havia nem um pé de jasmim no jardim, fato que não me preocupou. Aos poucos, passei a apreciar a rua lindamente arborizada e florida. Após alguns minutos, minha concentração foi quebrada por um ruído ensurdecedor que veio do interior da casa, o qual não fui conferir. Peguei o livro e sentei-me num sofá que, por coincidência, era, também, preto e amarelo. À medida que lia, algo fenomenal passou a ocorrer: de diversas páginas brotavam gotas de sangue. Sangue-erros, erros-sangue... Apavorada, procurei identificar os autores responsáveis por tais textos e, ao ler seus nomes, compreendi o que estava acontecendo. A inveja e a maldade daquelas pessoas era tamanha que sobrepunha ao lirismo de seus versos. Cada página se projetava conforme o modo de ser e de agir de seus donos. A diagramação feita pelo editor foi perdendo a forma e as páginas desoladoras passaram a ocupar a coletânea.
A sensação era angustiante e desagradável; no entanto, uma forte voz interior me fez voltar à realidade, dizendo-me: “Esteja sempre atenta aos pensamentos que percorrem nossa mente e lembre-se de que o sonho pode ser uma mensagem que nos está sendo enviada.” De repente, adentra a sala um pássaro amarelo e, indiferente, a tudo e a todos, pousa sobre o livro. Extasiada, olho-o, pois o cenário estranho e hostil dera lugar a um aroma campestre e envolvente, tornando o local repleto de luzes brilhantes e fascinantes.

 
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 03/06/2010
Alterado em 09/01/2014
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