Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



REENCONTRO DA ESSÊNCIA...
 
Fim de tarde. Lá fora, a água cai torrencialmente. Em meu peito, tristeza e dor. De meus olhos chovem desencantos e nostalgia. Os ruídos da chuva e os das lágrimas se confundem, um misto de melancolia e solidão. Em meu peito, uma energia estranha, sufocante e forte. Acredito ser partes de minhas inquietações que, após algum tempo reprimidas e sufocadas, rompem suas represas e se aventuram por caminhos entremeados por medos e por incertezas. O momento é de muita ansiedade e de busca. Corro atrás de uma verdade que não sei identificar e tão pouco explicar.
Não há expectadores, apenas eu e meu desconforto emocional repentino. Embora com os olhos lacrimejantes, amedrontada e apreensiva, procuro arrancar de mim este mau estar. A vida é efêmera, complexa e frágil. As minhas sensações e emoções estão desordenadas. Não é possível entendê-las e, contrapondo os conflitos de minh’alma, está o Criador a regar a natureza e a semear a esperança de dias vindouros. O que está acontecendo? Não estou sabendo lidar com os diferentes núcleos das minhas emoções.
Uau! Que trovoada estridente! Chuva, lágrimas, relâmpagos... De repente, como nos contos de fadas, o cenário se transforma. Desaparece a melancolia e surge uma alegria contida de menina sedenta de afeto e de carinho.
Com serenidade e com calma, olho distraidamente para o infinito e, num curto espaço, vejo-me a brincar na chuva quando garotinha. Levanto-me do sofá e vou à porta que dá para o pátio. Paro e olho para o céu carregado de nuvens negras e deixo-me envolver pela chuva que cai. Neste momento, lembranças e vivências da infância afloram. A garotinha sente-se dona de belíssimos sonhos e de fantasias; no entanto, a mulher madura, que ali está, encontra-se só e muito triste.
Continuei, por algum tempo, sem saber explicar e definir meus sentimentos; era incapaz de compreender o que estava acontecendo comigo. De repente, uma força interior diz-me para agir e, a passos lentos, deixo-me levar pela menina que renascera há poucos minutos. Sorrindo, corro para a chuva.
À medida que a água cai sobre o meu corpo, reencontro a minha essência.

 
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 29/05/2010
Alterado em 09/01/2014
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras