Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



UM ACORDAR...
 
A cidade acordava. O céu, encantador. Flores se abriam. Pássaros cantavam. Na Av. Ipiranga, intenso movimento de carros. Transeuntes andavam apressadamente, enquanto eu caminhava silenciosa, aparentemente, sem olhar para os lados. Ao chegar à parada, constatei que os rostos, que ali estavam, eram os mesmos do dia anterior, do outro dia... os de sempre. Sorri e os cumprimentei. Era como se nos conhecêssemos há muito tempo e eles compartilhassem diretamente do meu dia a dia.
O ônibus chegou e, silenciosamente, entramos e ocupamos os nossos lugares. Sentei-me só. Eu era apenas uma usuária da Linha T1 a caminho do trabalho. No meu lado esquerdo do corredor, um casal falava alegremente e, à frente dele, um jovem universitário ouvia música a todo volume. No Planetário, entrou um garoto bastante atrapalhado. Esse, ao passar na roleta, deixou cair uma sacola de papel que se rompeu, lançando alguns livros no corredor e embaixo dos bancos. O rapaz ficou bastante ruborizado e sem jeito. Levantei-me e o ajudei. Agradecido, sentou-se ao meu lado. Uma brisa cultural afagou meu coração e um perfume agradabilíssimo de bom leitor tocou minha alma.
Aquela manhã tinha tudo para ser diferente das outras, mas não fora, pois, ao devolver os livros ao garoto, identifiquei inúmeros títulos de clássicos universais e nacionais muito interessantes.
Eu? Fiquei quieta, admirando fascinada o rapaz. Ele, cuidadosamente, com um lencinho de papel, limpou seus livros. Suas mãos deslizavam suavemente como a acariciá-los. Certamente, um pedido de desculpas. Seus movimentos eram solenes e respeitosos e, aos poucos, adquiriu um ar de sabedoria e dignidade.
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 28/05/2010
Alterado em 09/01/2014
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