Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



LÍNGUAS DE FOGO
 
Ao longo de minha infância e de minha adolescência, muitas foram as mudanças. Vivi um pouco em Estância Velha, Porto Alegre e Novo Hamburgo. Independente da cidade, cresci ouvindo simpatias e superstições. Achava tudo muito confuso; no entanto, algumas tenho bem guardadas na memória: “Para o cabelo crescer, deve ser cortado na lua crescente; Jovem que pega o buquê da noiva será a próxima a casar; Para afastar maus espíritos, colocar sal numa panela e esquentar no fogo; Espelho quebrado, sete anos de azar; Mulher grávida não pode portar chave no seio, pois se assim proceder, a criança pode nascer com lábio leporino; Gestante com barriga arredondada, terá menina; pontuda, menino; Para nos livrarmos de maus olhados, espalhar sal grosso pelos cantos da casa; Passar embaixo de aroeira provoca irritações de pele; logo, para precaver-se deste mal, deve-se saudá-la por três vezes com profundo respeito. Se é de manhã, dizer ‘Boa tarde, dona aroeira!’ e, de tarde ‘Bom dia, dona aroeira!’”
Como morava em casa, era costume, nos fins de tarde, mães sentarem-se à frente das residências, a fim de os filhos brincarem com as demais crianças do bairro.
Nem sempre participava, preferia escutar as histórias que eram comentadas. Enquanto a maioria envolvia-se em correr, pular e jogar; eu, além de estar ligada às conversas dos adultos, tirava fotos de animais, plantas e pessoas que passavam na rua.
Numa tarde, ouvi uma vizinha falar:
Joãozinho fez xixi na cama. Deu-me um trabalhão.
Dona Alzira, rapidinho disse:
Amiga, esqueceste que menino, quando brinca com fogo, mija na cama.
Sai saltitando, super feliz. Uma vez menina, não corria riscos; podia fazer línguas de fogo. Brincadeira essa que, por pouco, não provocou um grande problema. Chamusquei meus cabelos e quase botei fogo num varal de roupas.
Travessuras, histórias e alegria alimentaram e deram sentido aos meus sonhos da infância e da adolescência. Ouvir, pensar, ler, brincar, escrever e fotografar fizeram-me ser! Que emoção! Meus sentimentos guardam segredos e medos que só o tempo poderá transformar.
Lá fora, uma fria garoa. Essa, além de refrescar o ar e tornar a natureza mais viva e colorida; está a revitalizar minha alma. Suas gotas caem como lindos cristais!
Roberta Beckmann Hoffmann
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 03/09/2017
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