Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



AMIGOS IMAGINÁRIOS
 
Ana Clara cresceu no interior do Rio Grande do Sul. Desde pequenina demonstrou fascínio pelo período do plantio do trigo. Acompanhava os passos do seu desenvolvimento: germinação da semente à emergência da plantinha na superfície; aparecimento das primeiras folhas verdadeiras; os perfilhos; espigamento e maturação do grão, na companhia do bisavô Gael, que a chamava de Fadinha do Trigo.
Nos passeios pela lavoura, levava Mago, seu fiel amigo, um gato que adotara quando bebezinho, e um banquinho para descansarem as pernas.
Em dias chuvosos, Ana Clara ficava cabisbaixa. O bisa procurava distraí-la, lendo-lhe os clássicos da literatura.
Seu Gael, por várias vezes, deparou-se com a menina, no meio do trigal, a reproduzir os contos de fada. Quando questionada, respondia:
– Eles gostam tanto quanto eu.
– Eles quem, meu amor?
– O trigal, o Mago e os amiguinhos que vêm brincar comigo. 
– Quem?
– Bisa, os meus amigos são diferentes de nós no falar e no vestir-se, mas eu os admiro; dão-me alegria e felicidade.
– Que bom! Quero conhecê-los!
– Vovô Gael está ficando velhinho. Quantas vezes já compartilhou de nossas brincadeiras! Coitadinho, está esquecido.
 
Seu Gael, pensativo, dirigiu-se, aos seus aposentos. Ana Clara precisava conviver com crianças da sua idade. Acreditava ter ela superado a fase dos amigos imaginários. Estaria contrabalançando perdas?
 
Constatar a nitidez com que a menininha via os amiguinhos foi preocupante. Dispensava os mesmos cuidados que recebia. Precisava colocá-la numa escolinha.
No dia seguinte, na hora do café, comentou-lhe que iriam a um colégio. Ana Clara perguntou:
– Posso levar os meus amiguinhos e o Mago?
– Hoje, não.
– Então não quero. Eles não sabem se virar sozinhos. Eu lhes dou amor e felicidade. Deixa? Deixa? Tu me amas e eu te amo. Juntos, somos uma família.
Ana Clara, após beijar seu Gael, correu na direção do trigal seguida por Mago.
– Venham! Venham! A vida nos chama.
– A que mundo pertence esta menina? Além de transpassar pureza e bem aventurança, cristaliza tudo e todos com simplicidade e doçura.
 
Após o almoço, o bisa e Ana Clara foram ao colégio. Tão logo chegaram, seu Gael foi explicando à diretora que estavam ali para matricular a garotinha. Era muito só e, nos últimos tempos, andava às voltas com amigos imaginários. Concluiu dizendo que, ao informá-la de sua decisão, ela, rapidamente, perguntou se poderia levar os amiguinhos e o Mago à escola.
– Senhora Diretora, como podes ver, minha bisneta está fantasiando muito. Talvez, eu seja o culpado, leio todo dia contos de fadas a ela.
– Seu Gael, os amiguinhos de Ana Clara aceitaram o convite e estão aqui.
– Senhora, não sou bobo nem louco. Me respeite.
– Calma, senhor. Eu também consigo vê-los. São seres espirituais e não irão atrapalhá-la em nada. Eles ainda precisam passar mais um tempo entre nós. Depois de cumprirem suas missões, seguirão seus caminhos.
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 22/01/2017
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