Ilda Maria Costa Brasil, Celeiro da Alma

"Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

Textos



LITERATURA SUL-RIO-GRANDENSE
 
A literatura sul-rio-grandense inicia com a poetisa Delfina Benigna da Cunha, por volta de 1840. Em 1843, é publicado o seu 1º livro de poemas: “Poesias Oferecidas às Senhoras Rio-Grandenses”, com 160 poemas. Sua obra nada tem do Romantismo; pelo contrário, esteve atrelada ao Arcadismo de Cláudio Manuel da Costa, seu principal modelo. No mesmo período, surge o ficcionista José Antônio do Vale Caldre e Fião, o qual nos deixou duas obras importantes: “A Divina Pastora”, o 1º romance gaúcho e 2º brasileiro; e “O Corsá­rio”. À Delfina Benigna da Cunha e ao José Antônio do Vale Caldre e Fião sucedeu o poeta romântico Manuel de Araújo Porto Alegre. O segundo acontecimento importante na história da literatura sul-rio-grandense foi a fundação da Sociedade Partenon Literário, na cidade de Porto Alegre, que congregou importantes nomes da época no campo das letras e da cultura. Tal agremiação, fundada em 18 de junho de 1868, restringiu-se a estimular as Letras: instituindo aulas noturnas; promo­vendo a discussão de teses das mais diversas naturezas; organizando saraus literários, em cujos programas constava a tribuna de preleção, seguida de sessões líricas, musi­cais e literárias. O “Partenon Literário” acabou em 1885, e, ao grupo, sucederam-se vários poetas parnasianos; destacando-se: Ramiro Fortes de Bar­cellos (Pseudônimo Amaro Juvenal), que escreveu “Antônio Chimango”, Poemeto Campestre que, além de satirizar o então Governador do RS, Antônio Augusto Borges de Medeiros, elabora um quadro vivo e fiel da vida no pampa gaúcho e seus costumes crioulos. Na segunda metade do século XIX, surgiu o primeiro teatrólogo sul-rio-grandense, José Joaquim de Campos Leão. Seu teatro era tão exótico quanto o pseudônimo com o qual assinava suas peças: Qorpo Santo; tendo sido um escritor bastante avançado para sua época. No final do século XIX e início do século XX, surgiram os poetas simbolistas, destacando-se: Eduardo Guimaraens, que retratou a angústia do entardecer de outono e dos primeiros frios do inverno nos pagos do Rio Grande do Sul, e Alceu Wamosy, cuja poesia se caracteriza pelo conteúdo lírico e crepuscular. Nesse mesmo período, manifestou-se o primeiro regionalista gaúcho, que foi também pré-modernista, João Simões Lopes Neto. Esse realizou um abrangente painel da realidade sul-rio-grandense e da natureza; retratou sua terra e seu povo explorando nossas origens, costumes e problemas sócio-econômicos. Sua obra constituiu-se de contos, poemas, lendas e de reportagens jornalísticas. O Modernismo, no Rio Grande do Sul, projetou-se a partir dos anos 30, com grandes nomes como Erico Verissimo, Cyro Martins e Dyonélio Machado. Com Erico Verissimo e Cyro Martins, um autor praticamente completa a obra do outro, uma vez que apresentam as duas visões do homem da estância. Enquanto Erico focaliza o herói, o caudilho dos pampas, Cyro apresenta o peão, o trabalhador agregado, gaúcho descapitalizado a caminho da cidade. Dyonélio Machado, ao contrário de Erico Verissimo e Cyro Martins, afasta-se dos temas abordados por seus contemporâneos e se preocupa mais com os problemas psicológicos; seus temas são urbanos e não campestres. Nesse período, dois gêneros literários se sobressaíram no Rio Grande do Sul: a prosa, eminentemente regiona­lista, e a poesia, que foi enriquecida com Mário Quintana, grande poeta lírico que, além de associar a vida real ao mundo onírico, uniu o quotidiano e o mistério através de um traço de humor natural e espontâneo, do homem comum; Augusto Meyer introduziu uma feição regionalista na poesia; e Raul Bopp levou ao extremo o projeto indianista do romântico Gonçalves Dias, manifestando o mítico através de lendas orais amazônicas. Na poesia contemporânea de nosso Estado, destacam-se Luiz de Miranda que transpassa grandiloquência, linguagem ornamental, escolha vocabular singular, capacidade inigualável e interesse diversificado pelos assuntos, nos quais demonstra o seu compromisso com a sociedade; Carlos Nejar, poeta não do verso, mas da poesia, embora resgate a gênese da condição humana na contemporaneidade, não atenta para o transcendental, mas penetra na alma; Luis Coronel, que tem sua obra voltada para a temática da terra, no que retoma a tradição do cancioneiro sul-rio-grandense; e Armindo Trevisan que trilha o caminho literário, quando não retórico, da inspiração originalmente religiosa. Na prosa, Moacyr Scliar (cronista, romancista, novelista) representante do realismo mágico, que focou sua obra na temática judaica, em que o humor e a ironia aparecem lado a lado; Caio Fernando Abreu (romancista, contista e cronista) cuja temática reflete com muita verdade o mundo atual e seus proble­mas, onde desfilam personagens marginalizados na sociedade gaúcha e brasileira, indivíduos oprimidos e solitários que buscam um sentido para viver; Josué Guimarães (romancista e contista), escritor de enorme dimensão artística, pela construção de seus personagens, emoção da trama e a dureza dos tempos que, como poucos, soube retratar com emocionante realismo; Luiz Antônio de Assis Brasil (romancista) que utiliza do realismo mágico-fantástico e tem a história como pano de fundo, reconstituindo o passado do Rio Grande do Sul; José Clemente Pozenato (romancista e novelista) o qual tem sua obra voltada para suas origens, ou seja, a colonização italiana; Tabajara Ruas (romancista) que tem sua produção narrativa inserida na linha de revisão crítica da História, sendo considerada uma paródia da história e da literatura oficiais do Rio Grande do Sul e do Brasil, caracterizando-se pela desconstrução, não a preconizada pelos grupos pós-modernistas, voltados à padronização do discurso; Sérgio Faraco (contista) que apresenta a marca do regionalismo, certamente por sua origem fronteiriça; no entanto, muitos de seus contos transcendem o mundo interiorano para atingir uma dimensão universal; Charles Kiefer (novelista e romancista) que, além de situar-se na ficção dos anos 70, quando os jovens não tinham vez e voz, dando-nos testemunho daqueles tempos obscuros, aborda conflitos do homem sulino; Lya Luft (romancista), a qual mergulha no universo psicológico de suas persona­gens, fazendo emergir as angústias de mulheres machucadas, feridas e reprimidas, fugindo de temas históricos ou sociais para se ater ao intimismo; Luis Fernando Verissimo (cronista, cartunista e romancista) o qual transpassa com singularidade, em suas obras, uma crítica bem humorada de nossa sociedade, dividindo seu tempo e suas palavras entre a literatura, a música e o futebol; Letícia Wierzchowski (romancista) que se dedica exclusivamente à ficção, lugar onde se sente confortável para subverter a realidade e aliviar angústias; Luís Augusto Fischer (contista, cronista e ensaísta) que focaliza a vida, os costumes e a paisagem sul-rio grandense, dentre outros temas; Jane Tutikian (contista e narrativa infanto-juvenil) a qual demonstra preocupação com sua cidade, com sua gente, captando detalhes do ambiente e da vida das pessoas numa postura contemplativa própria dos impressionistas; Caio Riter (narrativa juvenil) que se preocupa com os problemas psicológicos de seus personagens; seus temas são mais urbanos que campestres, embora mantenham uma linha regionalista, ao menos no que respeita ao cenário; Fabrício Carpinejar (poeta e prosador), o qual ganhou destaque, por seus vários blogs onde publica muitos de seus textos e escreve sobre assuntos bastante diversificados. Sem dúvida, a Literatura e a Cultura Sul-Rio-Grandenses floresceram muito, sobretudo a partir do século XIX. No decorrer do tempo, conquistou no Brasil e no exterior, um espaço ímpar. Seus representantes exploram linguagem elevada e precisa; temática diversificada; recursos plásticos de grande beleza e encantamento.
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 03/04/2014
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